Fará falta uma Marisa que foi do lar e das lutas!

Foto: Google Imagens/Veja

Foto: Google Imagens/Veja

(escrito por: Mariana Teles)
.
A mulher é protagonista natural da relação familiar. Seja na plenitude do papel da esposa que ouve, fortalece e arregaça as mangas para lutar em conjunto, seja investida na condição de mãe – que abarca todas as outras condições e os encantos naturais à maternidade. Toda mulher é primeira-dama do seu palácio doméstico, e, cada uma nasce vocacionada pra liderar, em maiores ou menores proporções.
 
A esposa de um líder, além de abarcar todas as missões da maternidade e do matrimônio é a todo tempo uma militante. Casou com um homem e com uma causa. Dividiu o companheiro com a história e viu os filhos gozarem das ausências sentidas e das presenças efêmeras entre um e outro movimento da história.
 
Dona Marisa foi primeira-dama durante 8 anos – 8 grandes anos da nossa república – 8 dos melhores! Sim! Dos melhores! Nesses oito anos eu vi água chegar às torneiras do Nordeste, filho de pobre colocar diploma de médico em parede de casa de taipa, nordestino andar de avião com frequência, a escola pública saltar de qualidade e superar todas as previsões, o ensino superior chegar aos pequenos centros, o brasileiro empregado e o Brasil andando, andando com força e autoestima.
 
(todos os vícios desse período andam longe de ser exclusividade de um Governo ou de um Chefe de Estado. São condições atemporais da regra de um sistema sem regras e corrompido por essência, por natureza – mas essa não é a pauta de hoje)
 
Na dianteira desse Brasil que inaugurou obras e reinaugurou vidas e sonhos, uma companheira seguia de mãos dadas ao líder. Era Marisa Letícia. Sem as vicissitudes do primeiro-damismo do Brasil patriarcal, Dona Marisa no auge da discrição parecia (e de fato era) ser a esposa do metalúrgico Luís. Não foi às capas de revista. Foi bela, foi recatada e foi da luta, sem deixar de ser do lar. Mas não precisou dos títulos. Não precisou da Veja divulgando seu perfil.
 
Acredito muito nas muitas Marisas. Aquelas que em luta silenciosa compreendem o quanto significam para muitas mulheres. Marisa abriu as portas da sua casa antes de se tornar Dona Marisa Letícia. Foi militante do movimento sindicalista e companhia no silêncio e na luta do presidente Lula. Assim como nos nossos lares, quando a coisa começa a desandar, também é no colo das companheiras que a maior pressão é segurada. E assim foi nos últimos anos. A família do presidente Lula, sobretudo, ele e sua sempre primeira e sempre dama, passaram a integrar as páginas policiais numa ferrenha caçada contra a tranquilidade e a moral de um lar. Uma página que o processo penal brasileiro vai levar muitos dias para superar com técnica e racionalidade.
.
Dona Marisa – a militante, a mãe, a esposa de Luís de dona Lindú, a mãe que viu o filho acusado de acumular riqueza em pouco tempo, de traficar influência, de se beneficiar da condição política do pai – que viu o marido suportar a pressão da mídia e das ruas.
 
Dona Marisa – que o corpo falou quando a alma não aguentou mais ir dormir sem saber se iria acordar com um mandado de coerção coercitiva pela manhã. O corpo falou, gritou, sangrou e nem na plenitude do seu sofrimento foi poupada das panelas, dos movimentos e do clima de ódio que toma conta de um Brasil minúsculo e entorpecido pela raiva política, que a cada dia fica mais distante do Brasil humano.
 
Essa corrida de ódio e terror tomou de Dona Marisa o direito de uma velhice com os netos e com o companheiro de uma vida. Não foi a morte cerebral de uma ex-primeira-dama decretada. Foi a morte dos bons sentimentos, da solidariedade e do bom senso que foi enterrada bruscamente nos corações de muitos brasileiros. Foi a morte da técnica e o nascimento das arbitrariedades. Do punir para depois saber se devia. Da exposição diuturna de um lar sem saber o que se passava na mesa da sua cozinha.
 
Desejo que esse dia na história sirva para reinaugurar em muitos corações a solidariedade e que, possamos enxergar um companheiro consternado, um pai tentando ser forte e um homem atingido no âmago da sua alma. Enxergar só Luiz. Só Dona Marisa Letícia. Só a dor do momento. Num Brasil de Marcelas belas e recatadas, fará falta uma Marisa que foi do lar e das lutas!

Notícias Recentes