Temer era “líder” da “facção” de Cunha, diz Renan Calheiros

(fonte: Carta Capital)
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Desde que foi preso, em outubro passado, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vem mandando inúmeros recados públicos ao presidente da República, Michel Temer, seu colega de partido. Os avisos chegam por meio de perguntas a Temer feitas nos processos que Cunha responde e nos quais sua defesa arrolou Temer como testemunha. Os questionamentos deixam evidente a proximidade entre os dois e o fato de Cunha conhecer fatos que constrangem Temer. O caso de José Yunes, ex-assessor do presidente, é apenas um deles.
Renan na tribuna do Senado: ele continua atacando Temer.

Renan na tribuna do Senado: ele continua atacando Temer.

Com o agravamento da situação do presidente da República, denunciado por corrupção, políticos vem perdendo o pudor de falar sobre a relação entre Cunha e Temer. O caso mais recente é o do senador Renan Calheiros (AL), que apesar de integrar o mesmo partido da dupla faz oposição ao governo. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Renan afirmou que “o problema de Temer” é que “ele sempre foi a ponta mais vistosa, mais diplomática de um iceberg. As investigações implodiram a parte que ficava abaixo da linha d’água. Na hora que a parte debaixo se desintegra, a de cima naufraga”, disse.
 
Na sequência, Renan falou sobre Cunha e criticou o que vê como “papel deletério” do ex-presidente da Câmara na política brasileira, que tinha “uma visão completamente distorcida da política e da representação”. Segundo Renan, “isso foi terrível do ponto de vista do abuso do poder, da chantagem com atores econômicos. Michel, que era o líder dessa facção, foi alertado em vários momentos”, afirmou.
 
Os comentários de Renan, que por sua vez responde a nove inquéritos, chegam em um momento no qual o governo Temer, tal qual um iceberg, afunda. De acordo com múltiplos relatos da imprensa, tanto Cunha quanto o doleiro Lucio Funaro, que seria o operador financeiro de seu grupo, estão negociando acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal.
 
Os dois poderiam comprometer as últimas figuras próximas a Temer que seguem em seus cargos – os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e o senador Romero Jucá (RR), todos do PMDB. No caso de Moreira Franco, ele também virou alvo das perguntas indiscretas de Cunha. Na ação que investiga fraudes no Fundo de Investimentos do FGTS, o deputado cassado indicou que Moreira recebeu propina quando era vice-presidente da Caixa.
 
“Vossa Excelência tem conhecimento de algum pagamento de vantagem indevida pelo senhor Benedicto Junior a Moreira Franco para liberação de financiamento do FI-FGTS à Odebrecht Transportes para associação no Porto de Santos?”, diz uma das perguntas de Cunha.
 
“Vossa Excelência tem conhecimento de qualquer vantagem indevida solicitada ou recebida pelo senhor Moreira Franco para liberação, no âmbito do FI-FGTS, em qualquer projeto, incluindo o Porto Maravilha?”, questiona a defesa em outro momento.
 
Nos últimos meses, outros integrantes do círculo íntimo de Temer estão presos ou caíram. São os casos de José Yunes, que sumiu do noticiário ao deixar o cargo, e de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o homem da mala de 500 mil reais, e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), ambos detidos, o primeiro em prisão domiciliar.
 
Nesta segunda-feira, o deputado Sergio Zveiter, o relator da denúncia contra Temer na Comissão e Constituição e Justiça da Câmara, apresenta seu parecer. O texto, depois, seguirá ao plenário. Se 342 deputados votarem a favor do prosseguimento da denúncia, a ação vai para o Supremo Tribunal Federal. Se a corte aceitar a denúncia, Temer vira réu e será afastado por seis meses, até seu julgamento.
 
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vem ganhando força para ser o substituto em definitivo. Renan Calheiros é um dos apoiadores. “Não devemos descartar o Rodrigo Maia como alternativa constitucional e como primeiro e decisivo passo para essa inevitável travessia que nós deveremos ter de fazer”, disse à Folha.

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