O cientista Stephen Hawking morre aos 76 anos
NOVA YORK — Todos conheciam o brilhantismo cósmico de Stephen Hawking, mas poucos podiam compreendê-lo. Nem mesmo astrônomos de alto nível. Hawking, que morreu em sua casa em Cambridge, na Inglaterra, nesta quarta-feira, aos 76 anos, tornou-se a face do gênio da ciência.
Ele apareceu em “Star Trek: The Next Generation”, deu voz a si mesmo nos “Simpsons” e escreveu o best seller “A Breve História do Tempo”. Vendeu 9 milhões de cópias dessa publicação, embora muitos não tenham sequer terminado sua leitura. O livro tem sido chamado de “o best-seller menos lido de todos”. De certa forma, Hawking era o herdeiro do manto de Albert Einstein do gênio-celebridade.
— Sua contribuição foi envolver o público de uma maneira que talvez não tivesse acontecido desde Einstein — diz o astrônomo Wendy Freedman, diretor do Carnegie Observatories. — As pessoas não entendem exatamente o que ele diz, mas sabem que é brilhante. Há talvez um elemento humano de sua luta que faça com que todos parem e prestem atenção.
De Einstein, a maioria conhece a equação E = mc2, mas não sabe o que significa. Com Hawking, os estudos eram muito complicados para grande parte das pessoas, mas elas entenderam que o que ele estava tentando descobrir era básico, até mesmo primordial.
— Ele abordava as questões mais importantes: o nascimento do universo, os buracos negros, o tempo — diz o cosmólogo Michael Turner, da Universidade de Chicago. — Eu acho que isso chamou a atenção das pessoas.
E Hawking fez tudo isso de uma maneira muito irrequieta, demonstrando humanidade, apesar de estar confinado a uma cadeira de rodas com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Ele voou em gravidade zero, fez apostas públicas com outros cientistas sobre a existência de buracos negros e suas radiações — perdendo duas delas e tendo que comprar, por causa disso, uma assinatura da “Penthouse” para um colega e uma enciclopédia de beisebol para o outro.
— A primeira coisa que atrai é a doença debilitante e sua cadeira de rodas — disse Turner, mas então sua mente e a “alegria que ele assimilou à ciência” dominavam.
E, embora o público não tenha entendido muito do que ele disse, entendeu sua busca por grandes ideias, diz Turner. Andy Fabian, astrônomo da Hawking’s University of Cambridge e presidente da Royal Astronomical Society, diz que Hawking começava suas palestras para leigos sobre buracos negros com uma piada: “Eu suponho que todos vocês leram ‘A Breve História do Tempo’ e o entenderam”.
Sempre gerava gargalhadas.
— Um astrônomo médio, como eu, sequer tentaria seguir as teorias mais esotéricas que (Hawking) perseguiu nos últimos 20 anos — diz Fabian. — Estive presente em suas apresentações e não consegui acompanhá-las sozinho.
Hawking, que nasceu no dia em que a morte de Galileu completou 300 anos, foi professor lucasiano de Matemática em Cambridge. O mesmo posto ocupado por Isaac Newton, reivindicado tanto por físicos quanto por astrofísicos. E grande parte do seu trabalho foi no campo da cosmologia, um ramo de pensamento profundo da astronomia que tenta explicar a totalidade do universo.
— O que importa é o que seu cérebro fez — afirma Neil deGrasse Tyson, diretor do Hayden Planetarium de Nova York. — Nós o creditamos como astrofísico porque seu laboratório era o universo.
O trabalho sobre buracos negros de Hawking em meados da década de 1970 foi o responsável por fazer uma conexão crucial na física. Até o momento em que o cientista descobriu a radiação proveniente de buracos negros — chamada de “radiação Hawking” — as duas grandes teorias na física, da Relatividade de Einstein e da mecânica quântica, muitas vezes entravam em conflito.
Hawking foi o primeiro a mostrar que elas se conectavam. O conceito de que coisas saem dos buracos negros pode ter irritado autores de ficção científica, mas inspirou jovens cientistas como Tyson, que descreveu essa teoria como “fantasmagórica e profunda”. O outro trabalho de Hawking foi sobre as origens do universo. Inicialmente, ele teorizou sobre a “singularidade” do universo em equações matemáticas elegantes, comparando o início do tempo com as funções da onda. Mais tarde, seu próprio trabalho contradizia algumas dessas ideias e foi instrumental para outras teorias sobre inflação cósmica.
Colegas frequentemente mencionam seu humor, seu grande sorriso, sua teimosia. E mesmo o público captava sua atitude atrevida instantaneamente, dizem Turner e Freedman. “Ele deu um rosto humano à ciência”, segundo Turner, “que vai muito além da cadeira de rodas”. A história mais importante era a de como o público ficou fascinado com aquele pequeno homem, preso em uma cadeira de rodas com uma doença degenerativa e um intelecto que poucos poderiam imaginar que existisse. Essas pessoas criaram uma relação com o homem Stephen Hawking e sua história, analisa Freedman. A percepção que ele nos deu sobre os mistérios do cosmos foi apenas um bônus.
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