Diminuição das águas de Jucazinho faz vestígios de vilarejos aparecem, após duas décadas
(escrito por: João Paulo Lima)
A maior seca das últimas décadas que vem assolando o Nordeste brasileiro tem provocado enormes mudanças nas paisagens, na economia e na população. Além da morte de animais no campo devido à fome, os nordestinos começam também a conviver com o fantasma do racionamento de água ou mesmo da sua já escassez completa, em alguns municípios do Agreste e Sertão.
Em Surubim o cenário não é diferente. No entanto, algumas vezes as desgraças também nos trazem graças. É o que está acontecendo na Barragem de Jucazinho, maior represa do rio Capibaribe e que viu nos últimos dois anos de estiagem suas águas irem embora.
Apesar da grande preocupação que a diminuição brusca das águas do reservatório tem provocado na população, a qual teme que a mesma venha a secar deixando 15 municípios agrestinos sem água, a seca trouxe a história à tona outra vez. Quase vinte anos após a sua inauguração, a diminuição do nível do reservatório fez ressurgir antigos povoados e vilarejos que estavam cobertos pela água. É o caso de Capivara e Couro D’Antas. Estes dois vilarejos, que foram abandonados e destruídos pelos moradores para a construção da barragem, agora estão com suas ruínas descobertas.
Importantes povoados dos municípios de Frei Miguelinho e Riacho das Almas, no passado esses locais eram ponto de travessia no Capibaribe ligando as duas cidades e rota certa para quem quisesse encurtar as distâncias entre elas. As ruínas das antigas casas, da escola e da igreja de Couro D’Antas podem ser vistas novamente. O passado volta ao presente, como se quisesse nos dar um recado: o desenvolvimento que nos destruiu será o mesmo que poderá destruir vocês.
O homem busca de todas as formas desenvolver-se e acumular riquezas. Preocupa-se muito com o dinheiro, o capital, mas se esquece do meio ambiente. As riquezas econômicas geradas pela utilização das águas de Jucazinho escondem a destruição de vilarejos com seu povo, sua história e sua cultura, bem como a inundação de milhares de hectares de mata de caatinga, matando sua flora e fauna.
O desenvolvimento rouba de nós as nossas origens, mas a própria natureza faz questão de nos devolvê-la. As ruínas de Couro D’Antas e Capivara nos faz pensar o que dizia o profeta de Canudos, Antônio Conselheiro: O mar vai virar Sertão. A história de um povo volta à tona e traz junto com ela a preocupação que devemos ter com a natureza.
Embora as ruínas desses vilarejos sejam uma fonte histórica inestimável, não há nenhum cuidado por parte da população local ou dos órgãos públicos em preservá-las. Parte do que sobrou da escadaria da antiga igreja do Povoado de Couro D’Antas está sendo destruído por vândalos. No local é possível encontrar restos das colunas e da fachada da mesma, além de parte do seu piso original coberto de lama e entulho. Além da capela, chama a atenção também o antigo cemitério que estava encoberto pelas águas. Dele pouco resta, mas a memória de quem ali viveu e morreu está guardada em seus restos de concreto.
Com a diminuição das águas, a antiga estrada de terra que ligava Riacho das Almas a Surubim foi reaberta. Agora carros, motos e pessoas voltaram a trafegar onde antes era o fundo da represa. Hoje apenas areia do rio. Resta saber até quando essa estrada durará, uma vez que com a volta das chuvas no futuro, Jucazinho tende a voltar a encobrir esse lugar.
Embora que por poucos dias as pessoas possam novamente andar por esses locais, a natureza fez questão de demonstrar ao homem o seu poder e a nossa limitação. A história renasce outra vez, ao passo que nos deixa uma lição: é preciso repensar o futuro que queremos. Ou pensamos urgentemente em sustentabilidade, ou as ruínas do passado antes encobertas por água, poderão virar presente.
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