Professores na linha de frente em um cenário de desafios e busca pela valorização

O Dia dos Professores não é uma data meramente comemorativa. A profissão é uma das mais importantes na formação de sujeitos enquanto cidadãos, mas, ao mesmo tempo, ainda é uma das mais desvalorizadas.

Segundo o Indicador de Valorização de Professores (IVP), apenas 26% dos brasileiros acreditam que os professores são bem valorizados no Brasil, já entre a classe docente, apenas 20% têm essa opinião.

Desafios da profissão docente

Os professores brasileiros recebem, em média, a metade da remuneração de professores dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

De acordo com o estudo Education at a Glance 2024, publicado pela própria organização em setembro deste ano, a remuneração dos professores da educação básica no Brasil gira em torno de R$ 128 mil ao ano, enquanto nos países mais ricos, os professores recebem anualmente cerca de R$ 237 mil, uma diferença de 47%.

A professora da rede de ensino do município do Paulista e mestre em educação, culturas e identidade pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Bernadete Brandão relata que muitos profissionais necessitam dividir-se em jornada dupla para manter um padrão de vida que garante mais do que apenas alguma dignidade.

“É difícil para o professor focar em uma única escola, a jornada dupla também impacta na qualidade do trabalho. É muito desgastante esse translado de uma escola para outra, a quantidade de alunos, trabalho que leva para casa… E o trabalho não é reconhecido no Brasil como deveria ser”.

Além de remuneração adequada, a educação necessita de infraestrutura básica para atender aos estudantes. Com base nos dados do Censo Escolar 2022, funcionários dos 32 Tribunais de Contas brasileiros auditaram 1.088 escolas de 537 cidades do Brasil.

O acompanhamento averiguou que 57% das salas de aula brasileiras são inadequadas. Dentre os principais problemas, destacam-se janelas, ventiladores e móveis quebrados e iluminação e ventilação insuficientes.

Além da estrutura física, ao tentar garantir a qualidade do ensino os professores deparam-se com turmas superlotadas, ocupando espaços de tamanho inadequado para a quantidade de alunos.

“Geralmente as escolas, além de estarem sucateadas, elas possuem salas muito pequenas, o professor fica impossibilitado de criar estratégias de ensino mais eficazes, porque a escola não comporta a quantidade de estudantes, dentro ou fora da sala de aula, para fazer um trabalho realmente efetivo e de qualidade”, completa Bernadete.

Outro ponto de atenção na profissão é o desgaste psicológico e emocional. Este desgaste, muitas vezes ignorado, pode afetar diretamente a saúde mental dos docentes, comprometendo o desempenho em sala de aula e a relação com os alunos.

Oferecer acompanhamento psicológico e promover ambientes de apoio nas escolas não só melhora o bem-estar dos professores, mas também potencializa sua capacidade de ensinar e criar um ambiente de aprendizado mais saudável e produtivo.

Além do desgaste, Bernadete relata que muitas redes de ensino dificultam o acesso dos professores às suas licenças garantidas por lei e não oferecem nenhum tipo de suporte psicológico à categoria, induzindo os docentes a procurar meios particulares para buscar a saúde mental necessária para enfrentar os desafios da educação.

Valorização e formação continuada



Os professores são fundamentais na formação das gerações futuras, pois desempenham um papel essencial na construção do conhecimento, desenvolvimento de habilidades e formação de valores dos estudantes.

Ao proporcionar mais do que conteúdo acadêmico, eles ajudam a moldar o caráter e a visão de mundo dos jovens, preparando-os para enfrentar desafios sociais, culturais e profissionais.

Com uma educação de qualidade, mediada por professores capacitados e engajados, as crianças e jovens de hoje se tornam cidadãos críticos e conscientes, capazes de transformar positivamente a sociedade no futuro.

Para tanto, a profissão necessita de valorização profissional e da sociedade através de remuneração adequada, condições próprias para desenvolver o trabalho e formação continuada e atualizada.

Mudança no panorama em Pernambuco

Apesar de ainda conviver com problemas como a superlotação de salas de aula e falta de infraestrutura adequada, a educação pernambucana tem avançado em seus resultados. No último Ideb (2023), as turmas de ensino médio do Estado atingiram a média de 4,5, a maior da região Nordeste, empatada com o Piauí.

A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE), neste 15 de outubro, pagará a mais de 21 mil docentes o Bônus de Desempenho Educacional (BDE), que desempenharam suas funções nos processos educacionais e nas metas atingidas no ano de 2023.

Os profissionais da rede estadual de educação contam também com o Bônus Livro, que concedeu R$ 1 mil a professores para a compra de livros e de material didático-pedagógico.

“Pernambuco conta com excelentes profissionais, que, diariamente, se esforçam para garantir uma educação pública de qualidade para todos. É devido à dedicação dessas pessoas, que o estado se destaca entre os que apresentam melhor desempenho educacional do País”, celebra Alexandre Schneider, secretário de Educação e Esportes.

“Mas é fato que também temos muitos desafios a vencer. E esta gestão segue disposta a trabalhar por melhorias não somente na infraestrutura das nossas escolas como em relação à valorização dos profissionais. Temos trabalhado incansavelmente para que os estudantes tenham acesso a boas escolas e para que os profissionais da Educação sintam-se valorizados”, finaliza.

Educação de Jovens e Adultos

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) enfrenta inúmeros desafios, entre eles, o principal: a evasão escolar. No ano de 2023, foram registradas 2,5 milhões de matrículas, sendo 2,3 milhões na rede pública de ensino. De acordo com os dados coletados pelo IBGE, via Pnad Contínua, a modalidade enfrenta queda nos estudantes matriculados: são 20% a menos desde 2018 a 2023.

“O acesso é oferecido, as escolas abrem as portas. Porém, para os estudantes permanecerem é um grande desafio, eles terminam abandonando, seja por problemas na família, no trabalho, gravidez ou doenças”, explica Marilucia Francisca, chefe da Unidade de Jovens, Adultos e Correção de Fluxo (UJC) na Gerência Regional de Educação Metropolitana Norte.

Parte dos estudantes da EJA são jovens com histórico de retenção escolar que buscam um meio de concluir o ensino fundamental ou médio. Outra parte são adultos e idosos com o mesmo objetivo.

Matriculada na EJA em Petrolina, principal núcleo urbano do Sertão pernambucano, Maria Edelzuita de Souza é a estudante mais idosa da educação básica no mundo. Aos 94, dona Edelzuita procurou a Educação de Jovens e Adultos para realizar seu sonho de aprender a ler e escrever.

Contudo, esse não é o objetivo de todos os estudantes. “Uma das motivações dos estudantes é a questão profissional. O que o Estado tem feito, além da educação básica, é oferecer também o ensino profissionalizante, através de parcerias com instituições, como o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Sistema S e Cesar School”, completa Marilucia.

Além da educação profissionalizante, a rede estadual busca outras formas de acolher os estudantes para incentivar a permanência: boa merenda, compatível com a faixa etária; ensino voltado para suas realidades de trabalho e família, com metodologias diferentes das utilizadas com crianças e adolescentes.

(Fonte: JC)

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