Joelinton: Talento “de Europa”, sim!

(escrito por Pedro Galindo – Doentes por Futebol)

O Sport começou o Brasileirão de 2014 tendo em Neto Baiano sua principal referência ofensiva. Tinha sido ele o grande personagem dos títulos estadual e regional daquele início de ano. Só que no segundo semestre, a dedicação não foi a mesma. E fora de sua melhor condição física, chegou o momento em que sua titularidade não se justificava mais. Poderia ser um problema sério para as pretensões do Leão, já que Leonardo, o reserva, era figura carimbada no departamento médico. Mas foi aí que apareceu um magrelão meio desengonçado, de nome estranho, para comandar o ataque rubro-negro, salvar o emprego do técnico Eduardo Baptista e se tornar a grande revelação da história recente do clube.

No início de novembro daquele ano, o Rubro-negro vivia um momento crítico da temporada. O time acumulava oito jogos sem vitória e, nessa sequência, havia marcado apenas quatro gols. Pela 32ª rodada do Brasileiro, o Leão enfrentava o Figueirense em casa. A vitória era crucial: afinal, qualquer outro resultado consolidaria ainda mais uma tendência perigosa de aproximação da zona do rebaixamento. Um caminho que, àquela altura do campeonato, poderia se revelar irreversível.

Contra o Flu, o camisa 34 venceu o duelo com Fred

Contra o Flu, o camisa 34 venceu o duelo com Fred

O jogo começou, os minutos foram passando e o conhecido gargalo ofensivo leonino ficou mais uma vez escancarado. A equipe criava poucas chances e, quando conseguia, faltava poder de fogo. Até que, após o intervalo, veio a campo Joelinton. Com o número 34 às costas, o jovem logo deu nova dinâmica ao ataque. Protagonizou boas tabelas com Diego Souza. E participou da jogada que culminou com o pênalti em que o camisa 87 fez o gol da sofrida vitória. Um cartão de visitas que abriu os olhos do torcedor para a ascensão de um talento talhado nas categorias de base do clube.

A partir desse jogo que marcou o reencontro do Sport com as vitórias, Joelinton ganhou a confiança plena de Eduardo Baptista. À qual correspondeu sem deixar margem para qualquer contestação. De repente, o garoto se tornou titular absoluto. Vinte dias após a partida contra o Figueira, saiu o primeiro gol. Contra o Fluminense, diante da torcida, na Arena Pernambuco, ele escorou cruzamento de Renê e saiu para o abraço. A fase era tão boa que, após a partida, o técnico rubro-negro rasgou elogios à atuação de seu pupilo.

Era óbvia a intenção do treinador com a declaração: agradecer ao garoto pelo esforço e a personalidade mostrados naquele momento tão difícil para o conjunto. E mostrar a ele o futuro que o aguardava caso ele mantivesse aquela conduta. Só que as palavras terminaram semeando entre a torcida e a imprensa local uma falsa imagem de que Joelinton era um jogador absolutamente pronto para atuar nas ligas mais competitivas do mundo. De fato, difícil era esperar interpretação diferente, em um país cujo futebol é tão marcado pela cultura do imediatismo. Era como se o vaticínio de Eduardo tivesse, subitamente, transformado aquele menino de 18 anos, ainda suscetível a oscilações, em um matador de elite.

Joelinton comemorando gol pelo Sport | Foto: Divulgação

Joelinton comemorando gol pelo Sport | Foto: Divulgação

Foi cercado dessa expectativa que o atacante iniciou sua jornada em 2015. Tinha a confiança do clube, que resolveu apostar e valorizar sua principal revelação, ao invés de contratar um jogador “de peso” para a posição. Crédito simbolizado pelo número 9 que ele passou a envergar a partir de janeiro. Por tudo isso, quando atravessou sua primeira má fase, viu recair sobre si uma desconfiança nas mesmas proporções. Ao invés de aplausos e incentivos, passaram a vir das arquibancadas as vaias. Que pareciam impedir o garoto de repetir as grandes atuações do ano anterior.

O baixo rendimento de Joelinton no primeiro semestre de 2015 teve um custo muito alto para o Sport. O setor ofensivo voltou a ser problema. Travou novamente o time e, muito por isso, a falta de gols em momentos cruciais foi provavelmente a grande razão das eliminações no Pernambucano e na Copa do Nordeste. Com o fim abrupto da participação rubro-negra nas duas competições, a necessidade que o clube tinha de, enfim, fazer um investimento num atacante era escandalosa (alguns diziam até ser fruto de omissão da diretoria). Veio, então, Henane Brocador. Mas a demora na regularização do reforço, somada à lesão do concorrente Samuel, deu ao garoto mais uma oportunidade de mostrar, de novo quando poucos esperavam, que todo aquele talento mostrado não tinha ficado no passado.

Com o início de mais um Brasileirão, o Sport voltou a se mostrar o time confiável de um ano antes. E com essa evolução coletiva, reapareceu aquele Joelinton que havia encantado a torcida. Boa partida na estreia contra o Figueirense. Na 2ª rodada, uma linda assistência de calcanhar para gol de Elber no Maracanã, contra o Flamengo. Na 4ª rodada, gol na Vila Belmiro, contra o Santos. Até que pipocaram as primeiras notícias de que a Europa já tinha crescido os olhos sobre o jogador. Investidores alemães já estavam, inclusive, no Recife para apresentar uma proposta oficial ao Sport por ele. A essa altura, sua saída já era inevitável.

Joelinton comemorando gol pelo Sport | Foto: Divulgação

Joelinton comemorando gol pelo Sport | Foto: Divulgação

Poucos dias depois, ele assinava contrato com o Hoffenheim, seu novo clube. E transformava os elogios de Eduardo Baptista, meses antes, em uma profecia que teve que ser engolida por quem ridicularizou ou descontextualizou suas palavras. Sim, Joelinton hoje é jogador de Europa. E numa liga que é exemplo de organização e bom futebol, terá a oportunidade de continuar sua evolução. Agora, sob os olhares ainda mais atentos de clubes que, ao contrário da maioria dos brasileiros, investem com base no planejamento, e não no imediatismo.

Trajetória

Nascido na pequena cidade de Aliança, na Mata Norte de Pernambuco, a 80 km do Recife, Joelinton foi descoberto aos 14 anos pelo olheiro João Maradona, em uma peneira. Veio para as categorias de base do Sport e morou na concentração do clube até sua saída para a Alemanha.

Teve uma passagem pela seleção sub-17 em 2012, convocado pelo técnico Marquinhos Santos, e marcou dois gols pela Amarelinha. Para quem quiser saber mais detalhes vida pessoal e do início de carreira do jogador, a dica é ler a entrevista que ele concedeu ao companheiro Daniel Leal, repórter do Superesportes.

Características

Em sua rápida ascensão no Sport, Joelinton chegou a marcar alguns gols importantes, mostrando bom poder de finalização e frieza em frente ao goleiro. Mas se destacou menos pelo faro artilheiro e mais pela sua dominância nas disputas de bola.

Pelo alto, é quase sempre favorito a vencer o confronto individual contra o marcador. E com a bola no chão, sabe usar muito bem seu corpo (e o do rival) para proteger a bola e garantir a posse. Assim nasceram várias jogadas de perigo do Sport nos últimos meses.

O desafio no Hoffenheim

A primeira meta do pernambucano no seu novo clube é convencer a comissão técnica de que ele tem condições de ser aproveitado no time principal desde já. E considerando o histórico do Hoffenheim de utilizar de maneira consistente seus atletas jovens, é difícil imaginar que ele será emprestado para ganhar experiência ou sob qualquer outro pretexto.

Ou seja, já que o clube se propõe a ser uma escola, seu sucesso só depende dele próprio manter sua vontade de aprender e evoluir. Dentro de campo, a disputa será intensa. O técnico Markus Gisdol tem à disposição para o comando do ataque alguns jogadores experientes, como Schipplock e o húngaro Szalai. O único que parece garantido no setor é o jovem Kevin Volland, titular da Alemanha sub-21 e grande promessa do clube hoje. Mas aparentemente, Joelinton chega para preencher a lacuna deixada pelo francês Anthony Modeste, que foi negociado com o Colônia.

Por isso, deve ganhar suas oportunidades como referência ofensiva, ajeitando a bola para que atacantes mais móveis cheguem de trás. Se conseguir cumprir bem esse papel e fazer seus golzinhos de vez em quando, tem tudo para ganhar a confiança do treinador e dos companheiros.

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