Festa de São Bento: símbolo de fé e cultura popular
(Por João Paulo Lima/Portal Surubim)
Encravada no alto de um morro, avista-se ao longe a capela imponente do Santo Abade. Sua arquitetura singular, resquício da colonização portuguesa em terras pernambucanas, data de 1889. Os velhos sinos, as imagens barrocas, o altar, tudo faz-nos voltar ao passado e imaginar o desafio que era levar as pessoas simples da região para aquele local que, no passado, era inóspito.
O cruzeiro na frente da igreja, virado para o nascente, faz-nos sentir a fé de um povo simples e rico em devoção popular. Rodeada de montanhas e de uma natureza belíssima, a velha capela é o símbolo de um povo devoto e que respira fé em um mundo cada vez mais carente dela.
São Bento não é apenas uma construção de tijolos, mas uma manifestação viva da tradição e cultura centenária de um povo que vai passando de geração em geração. Para a humilde igrejinha acorrem pessoas vindas de toda João Alfredo, além de diversos sítios e cidades vizinhas, como Surubim.
Subindo a “ladeira” que nos leva para a igreja, olhamos para o alto e vemos sua cruz na torre quase que tocando o céu. Nesse lugar simples, afastado das grandes aglomerações urbanas, reina uma paz infinita e exala-se fé. Do alto de seu pátio, observamos em silêncio a paisagem linda do horizonte infinito e um sentimento de tranquilidade toma-nos.
As senhoras com seus terços nas mãos, rendas nas cabeças e fitas do Apostolado da Oração fazem-nos mergulhar na tradição católica do povo campesino. Pessoas simples que encontram na fé em seu padroeiro a cura das dores do corpo e da alma e a esperança de um mundo melhor. Para elas, a tristeza é passageira e em Deus está a fonte de toda alegria. No altar da igreja observa-se um púlpito centenário, em que encontramos uma frase que confirma isso:” Tudo no mundo é ilusão, menos amar a Deus”.
Centenas de pessoas sobem o morro para participar da 126ª Festa de São Bento. De crianças recém-nascidas nos braços de suas mães a idosos, forma-se uma multidão de pessoas vindas a pé, em cavalos e carros, que faz o pequeno povoado não comportar tamanha quantidade de gente. A estrada de terra batida fica pequena para tantos fiéis e o tráfego torna-se caótico.
Os degraus da escadaria que levam à porta da capela ficam lotados. Muitos pagam promessas, agradecendo as graças alcançadas. Um outro tanto vão até a mesa de pedido de oração, onde são colocadas as intenções para a missa. Perpetua-se assim o antigo costume de rezar pelos mortos, tão antigo quanto a própria igreja.
Nos fundos da capela encontra-se o Cemitério de São Bento, local muito visitado no dia da festa, que acontecem sempre no último domingo de agosto a cada ano. Com os portões abertos, as pessoas seguem curiosas pelos túmulos e embaixo de suas árvores esperam a missa, escondendo-se do sol escaldante.
No pátio da igreja multiplicam-se as barracas de lanches e os famosos vendedores de confeito de açúcar, os quais são tradicionais nas festas do interior do estado e marca registrada da cultura local. Os jovens esperam ansiosos o show profano que acontece após o termino da missa. E como é de praxe, não poderia faltar os políticos locais, que marcam presença para apertar a mão dos seus eleitores. Oposição e situação disputam lugar e prestígio diante de uma multidão em festa. E o cenário típico do Nordeste brasileiro passa bem em frente aos nossos olhos, recordando um passado que continua presente em nossas terras agrestinas e por muitos anos, creio eu, tenderá a existir.
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