Aedes aegypti, o pequeno monstro
(fonte: Diário de Pernambuco)
São pelo menos 30 anos de história no Brasil. Quando o mosquito Aedes aegypti começou a se proliferar, na década de 1980, o país ainda não estava na era democrática, não havia nem tecnologia digital. O problema é antigo e, talvez por isso, tenha sido incorporado à rotina de banalidades do brasileiro. A recente correlação do zika vírus com o surto de microcefalia trouxe à tona uma verdade antiga: de inofensivo o Aedes não tem nada. Transmite doenças capazes de provocar dores crônicas, danos neurológico e até a morte. O desafio, agora, é o mesmo que deveria ter sido enfrentado com seriedade plena desde o princípio: combater os focos e a disseminação de ovos.
Não há, para os especialistas em epidemiologia, outra solução mais prática e viável atualmente, para minimizar a situação. A entomologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Cláudia Fontes explica que, para isso, é preciso um olhar além do óbvio. Cuidamos dos pratinhos de plantas e das caixas d’água, mas esquecemos dos microcriadouros, aquela tampa de refrigerante jogada no quintal ou mesmo o bebedouro d’água da cozinha.
“Quando houve surto de dengue, havia mutirões. Passou, as coisas voltaram ao estado anterior e por isso enfrentamos esse problema agora. Se tivéssemos diminuído a densidade populacional do Aedes, a situação poderia ser melhor”, ressalta a pesquisadora. Um ovo de Aedes pode ficar até 400 dias esperando para eclodir. Em menos de 72 horas, as larvas podem virar mosquito. É preciso uma ação eficaz e rápida. Um ciclo completo, em condições favoráveis de temperatura, pode durar 10 dias. “O mosquito é estratégico, ele não coloca todos os ovos em um mesmo criadouro. Os criadouros não visíveis acabam funcionando como retroalimentadores do ambiente”, disse Cláudia Fontes.
Para o infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) Demetrius Montenegro, é preciso uma mobilização conjunta. O governo precisa investir em saneamento básico, coleta de lixo e abastecimento de água. A população, por sua vez, deve redobrar a vigilância dentro de casa. “Já se sabe que o mosquito também se reproduz em água suja. Isso é um fator que complica ainda mais”, lembra o médico. Ele reforça também que as pessoas não devem esperar as campanhas para agir. “É preciso criar uma rotina independentemente da situação epidemiológica. As pessoas estão se expondo ao vírus a todo momento. O Aedes pode, inclusive, carregar os três vírus ao mesmo tempo”, esclareceu Demétrius Montenegro.
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