Agreste pernambucano enfrenta grave crise de abastecimento de água
(fonte: G1)
O Agreste pernambucano tornou-se a principal fonte de preocupação dos gestores do sistema de abastecimento no estado. Quando o assunto é falta-d’água, em 2016, quatro fatores serão preponderantes para a região ligar o sinal vermelho. A Barragem de Jucazinho, a maior da região, tem apenas 1,4% de água acumulada, o pior volume da história. A obra da Adutora do Agreste, a grande esperança dos moradores dos municípios da área, encontra-se paralisada desde o ano passado e não há previsão de retomada dos serviços.
Para piorar, dos 34 reservatórios menores ou complementares, oito estão em colapso. Ou seja, um quarto desse total apresenta volume acumulado inferior a 2%. E, como se não bastasse tudo isso, a expectativa de chuvas para os próximos quatro meses é de até 40% abaixo da média histórica. Diante desse quadro crítico, a Companhia de Abastecimento de Pernambuco (Compesa) vem sendo obrigada a driblar as adversidades. Um sistema de monitoramento de seca implantado há dois anos deu uma última chance de vida ao reservatório, responsável pelo abastecimento de 15 cidades e uma população de mais de 400 mil pessoas.
“Pensávamos que Jucazinho estaria seca no fim de 2015. Adotamos medidas, como tirar algumas cidades da dependência de abastecimento, e levamos água de outras regiões. Assim, conseguimos salvar o reservatório, mas a situação é muito grave no Agreste”, afirmou o presidente da Compesa, Roberto Tavares. Por causa do problema em Jucazinho, a companhia vem adotando medidas paliativas. Entre elas, a instalação de reservatórios de cinco e dez mil litros em pontos estratégicos que servem de pontos alternativos de distribuição. Pelo menos 40 já foram colocados em Salgadinho, Surubim, Santa Maria do Cambucá, Frei Miguelinho, Vertentes, Passira, Cumaru, Santa Cruz do Capibaribe, Casinhas, Vertente do Lério e Taquaritinga do Norte.
Os reservatórios atendem, de forma complementar, as localidades onde a Compesa enfrenta dificuldade para chegar. “São comunidades que estão em pontos altos ou no fim da rede de distribuição. Como as cidades estão passando pouco tempo com água, nem sempre ela consegue chegar nesses locais mais difíceis. É esse complemento que estamos fazendo agora”, explicou o gerente da unidade de negócios do Alto Capibaribe, Mário Heitor Filho.
A companhia apostava todas as fichas na construção da Adutora do Agreste, uma obra orçada em R$ 1,3 bilhão. Por falta de recursos federais, os serviços foram suspensos, mesmo depois de o governo pernambucano ter efetuado o pagamento de R$ 500 milhões. “Não sabemos quanto teremos para a obra, em 2016. Se o governo federal liberar até R$ 400 milhões este ano, a barragem fica pronta em 2017. Caso contrário, se tivermos menos recursos do que isso, ela só será entregue em três ou quatro anos. Até lá, enfrentaremos grandes problemas”, justificou Tavares.
Para a Compesa, uma questão é certa: se não chover até abril, só será possível continuar abastecendo as cidades com água de Jucazinho até o final daquele mês. Atualmente, esses municípios estão com um calendário de distribuição de dois dias com água para 28 sem. A barragem tem capacidade para acumular até 327 milhões de metros cúbicos. Dados da Agência de Água e Clima de Pernambuco (Apac) também não são nada animadores para o Agreste. No mesmo período do ano passado, a região tinha um acúmulo de 18% nos reservatórios. Este ano, o índice caiu para 12%. “Temos que guardar água. A situação está realmente difícil”, declara a gerente de Fiscalização, Lígia Endres.
O gerente de meteorologia da agência, Patrice Oliveira, apresenta outro dado pessimista. O sistema que influencia o regime pluviométrico do Agreste e deveria começar a atuar agora, em março. Mas, infelizmente, por causa do El Niño, chegará com bem menos força do que o previsto. “Normalmente, ocorre um índice de mais de 100 milímetros de chuva , durante o período, mas ficaremos bem abaixo disso”, observou.
Sertão
Os dados da Apac sobre acúmulo de água nos reservatórios do Sertão também exigem cuidados dos gestores públicos. Das 39 barragens da região, um terço encontra-se em colapso. Ou seja, 13 delas têm menos de 2% de volume. Somando todos os reservatórios, o volume de água acumulado é de 2%. Isso significa um índice bem menos do que no mesmo período do ano passado, quando as barragens sertanejas tinham acumulado 6%. Na região, a expectativa de chuvas para os próximos meses também é menor do que a média histórica.
Há, no entanto, uma explicação dos gestores para uma preocupação menor, em comparação com a situação crítica do Agreste. “No Sertão, há uma infraestrutura muito melhor do que no Agreste. No Araripe, conseguimos levar a água por meio da Adutora do Oeste. São 660 quilômetros de sistema. Sem falar nas cidades banhadas pelo São Francisco e nos locais em que temos condições de garantir o abastecimento, como a região de Salgueiro. No Sertão, as barragens são complementares. Essa é a maior diferença”, explica o presidente da Compesa, Roberto Tavares.
Mata e Grande Recife
Enquanto o Agreste e o Sertão enfrentam dificuldades, a Zona da Mata e o Grande Recife têm situação pouco mais confortável. Os 14 reservatórios apresentam volume acumulado de 57%, só dois por cento a menos do que no mesmo período do ano passado. E o melhor: o regime de chuvas para as regiões se intensifica a partir dos próximos meses.
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