Autoridades confirmam 95 mortes em enchentes na Espanha; número deve subir

Pelo menos 95 pessoas morreram em enchentes repentinas severas na Espanha, enquanto equipes de emergência correm para encontrar dezenas de desaparecidos.

Na região mais afetada de Valência, 92 pessoas morreram, de acordo com Angel Victor Torres, ministro de política territorial e memória democrática da Espanha. Outras duas morreram em Castela-La-Mancha e uma pessoa na Andaluzia.

Vários locais no sul e leste da Espanha foram atingidos por até 300 mm de chuva em apenas algumas horas na terça-feira (30), no que marcou a pior precipitação em Valência em 28 anos, de acordo com a agência meteorológica estadual AEMET.

Dezenas ainda estão desaparecidos após enchentes na região de Valência, e número de mortos deve aumentar nesta quinta (31). Governo espanhol foi criticado por não mandar avisos prévios de inundação. Primeiro-ministro pede que pessoas fiquem em casa.

Os serviços de emergência em Valência, na cidade de Málaga e Castela-La-Mancha, entre outras regiões, disseram que ainda estavam trabalhando para encontrar dezenas de desaparecidos.

Emiliano García-Page, presidente do governo regional de Castela-La-Mancha, comparou o dilúvio ao rompimento de um dique. “Não foi uma chuva torrencial, foi como o rompimento de uma represa”, disse García-Page à emissora nacional espanhola TVE. “As pessoas estavam ligando [para números de emergência] chorando, pedindo ajuda e era quase impossível alcançá-las.”

A região de Valência, gravemente atingida, foi lançada em um estado de caos, com a maioria das rodovias se tornando completamente inutilizáveis ​​na terça à noite e na quarta de manhã. Veículos que foram abandonados no trânsito foram levados pela água.

Um tribunal foi transformado em um necrotério temporário na capital regional, também chamada Valência, disseram autoridades locais, pois o número de mortos deve aumentar.

Pelo menos 40 pessoas, seis das quais estavam em uma casa de repouso, morreram na cidade de Paiporta, em Valência, informou a agência de notícias estatal espanhola EFE, citando seu prefeito.

Vídeos postados por várias agências de resgate na quarta-feira mostram ruas inteiras inundadas, pessoas presas em telhados e carros empilhados e capotados.

Foto: Divulgação

Acredita-se que cerca de 1.200 pessoas ainda estejam presas em diferentes partes de uma rodovia em Valência, e 5.000 veículos estão bloqueados como resultado das águas da enchente, informou a EFE, citando a Guarda Civil da Espanha.

Os trens foram suspensos na região de Valência, assim como outros serviços públicos importantes em outras regiões afetadas. Escolas, museus e bibliotecas públicas na região de Valência serão fechados nesta quinta-feira, de acordo com o governo local.

Em Málaga, na região da Andaluzia, um britânico de 71 anos morreu de hipotermia, de acordo com o prefeito da cidade, Francisco de la Torre.

“Não sabemos onde estão nossos pais”

Sobreviventes e familiares dos desaparecidos falaram à TVE sobre a chuva aterrorizante. “Foi agonizante. Quando vimos a água subindo e atingindo o primeiro andar da casa, fomos para o telhado”, disse um morador à TVE. “Ficamos no telhado até as 4 da manhã. Não tínhamos água, estávamos com frio. Finalmente, o helicóptero chegou.”

“Tudo está destruído, mas pelo menos estamos aqui para contar [a história]”, ela acrescentou.

A família de Petruta Sandu também foi pega de surpresa pela enchente repentina. Ela falou com seus pais pela última vez na noite de terça-feira, quando eles ficaram presos no teto do carro enquanto as águas subiam ao redor deles.

“Desde as 22h da noite passada, não sabemos nada sobre nossos pais”, ela disse à TVE. “Meu cunhado andou quase 7 km com água na altura dos joelhos para encontrar o helicóptero e encontrar o veículo, mas eles não encontraram ninguém. Não sabemos onde nossos pais estão.”

Em cidades próximas a rios como Utiel ou Paiporta, a água derramou nas ruas, informou a CNN. Vans, carros e latas de lixo foram levados pelas correntes que, em alguns casos, atingiram o primeiro andar dos edifícios.

AEMET relata que a “gota fria” que causou a inundação é a pior que Valência já experimentou neste século, mas acrescenta que é muito cedo para dizer se a mudança climática é a culpada. O termo “gota fria” se refere a uma poça de ar mais frio no alto da atmosfera, que pode se separar da corrente de jato, fazendo com que ela se mova lentamente e muitas vezes leve a eventos de chuva de alto impacto. O fenômeno é mais comum no outono.

Carros empilhados em rua de Valencia após inundação em 30 de outubro de 2024. — Foto: AP Foto/Alberto Saiz

A grande quantidade de chuva que caiu fez com que muitos fossem pegos de surpresa, com pessoas ficando presas em seus porões ou primeiros andares e incapazes de chegar a um lugar seguro.

O primeiro-ministro Pedro Sánchez disse na quarta-feira que seu governo usaria todos os meios necessários para ajudar as vítimas das inundações, enquanto pedia às pessoas que permanecessem vigilantes. Ele deve visitar Valência nesta quinta-feira.

A ministra da Defesa Margarita Robles descreveu a inundação como um “fenômeno sem precedentes”, informou a CNN. Robles disse que mais de 1.000 membros das forças armadas foram mobilizados para ajudar nos esforços de resgate.

O governo espanhol decretou três dias de luto oficial pelas vítimas das enchentes, a partir de quinta-feira.

Um morador local de uma das cidades afetadas, Antonio Carmona, descreveu à CNN o que aconteceu quando as enchentes chegaram. “Quando olhamos aqui, vimos tudo descendo. (A água) levou carros, derrubou metade da casa de um dos nossos vizinhos.”

Carmona apontou para suas roupas rasgadas, dizendo que ele e outros estavam salvando cães pegos na enchente.

Uma mulher chamada Beatriz Garrote estava dirigindo para casa do trabalho na cidade de Torrent, em Valência, na terça-feira à noite, quando se viu presa em um trecho do anel viário pela água subindo por várias horas ao lado de outros motoristas, de acordo com o jornal espanhol El Pais.

“Passei pela primeira saída, que era para Paiporta, mas estava fechada porque nos disseram que a cidade estava inundada e não podíamos sair”, disse ela, informou o El Pais. Ela disse que seu carro então ficou preso “e de repente as duas faixas mais próximas da saída começaram a inundar”.

Ela descreveu sentir-se “muito assustada” conforme os níveis de água subiam rapidamente. “Eu não sabia de onde vinha ou o que estava acontecendo. A água começou a subir muito rápido.

“Depois de 10 minutos, estava na metade da roda do carro. Um dos voluntários nos disse para virar os carros, mas não havia saída possível.”

A crise climática causada pelo homem está tornando o clima extremo mais frequente e severo, dizem os cientistas.

À medida que o mundo esquenta devido à poluição por combustíveis fósseis, os eventos de chuva mais intensos estão ficando mais pesados ​​e frequentes. Oceanos mais quentes alimentam tempestades mais fortes e uma atmosfera mais quente pode reter mais umidade, que ela extrai na forma de chuvas torrenciais.

Os alertas de chuva continuam até quarta-feira para partes do leste e sul da Espanha, de acordo com a AEMET, com a ameaça de chuva forte prevista para continuar até o final da semana.

(Fonte: CNN Brasil)

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