Boaventura: Sociólogo vê Dilma longe do movimento social e Marina útil para a direita
(Fonte: Leonardo Sakamoto)
Texto retirado de uma entrevista com o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos.
Marina Silva (PSB) é um “desvio necessário” para a direita voltar ao poder no Brasil e Dilma Rousseff (PT) se distanciou dos movimentos populares, mas esteve próxima do grande capital e da bancada ruralista durante seu governo. A avaliação é do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, considerado um dos mais importantes intelectuais da esquerda na atualidade. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, e professor da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e da Universidade de Warwick, no Reino Unido, possui uma extensa produção sobre participação social, modelos de democracia e concepções de direitos humanos. Ligado a movimentos sociais brasileiros e globais, Boaventura veio ao Brasil lançar seu novo livro (O direito dos oprimidos, Editora Cortez) e deu entrevista ao UOL.
Segundo Boaventura, a hegemonia do pensamento oligárquico de direita não consegue voltar ao governo sem utilizar alguém que tenha perfil de esquerda no país. Para ele, Marina Silva pode ser o “desvio necessário” para que isso aconteça. “Isso não quer dizer que Marina Silva possa ser instrumentalizada de uma maneira fácil por quem quer que seja. É uma mulher forte, lúcida, inteligente. Mas está em um jogo e tenta mostrar que o seu passado ecologista não tinha que colocar medo ao grande capital. Porque não é o seu partido que a sustenta, mas muitos interesses do capital, que estariam contra o que era a Marina Silva de alguns anos.”
Ao mesmo tempo, analisa que Dilma recuou na relação com os movimentos populares. “Se essa distância fosse também calculada em relação à bancada ruralista e aos poderes dominantes, poderíamos dizer que seria um estilo de autonomia do Estado. Mas o que se viu foi uma assimetria preocupante sobretudo para um partido que assentou efetivamente na promoção das classes populares.” Ele também criticou o uso da ideia de “democracia de alta intensidade”, construída por ele, na campanha eleitoral brasileira. “O conceito não pode ser usado oportunisticamente. Não é apenas acrescentar tecnologias de informação e comunicação à democracia participativa como parece ser isso que retiro do programa de Marina Silva que li com cuidado”, afirma Boaventura. “Não vejo no programa nada que vá no sentido de uma revolução democrática, que obriga a uma grande reforma do Estado.”
Ele explica que uma “democracia de alta intensidade” tem que ser anticapitalista, anticolonialista e antipatriarcal, com a participação real e na proporção em que aparecem na sociedade, de mulheres, negros, povos tradicionais, trabalhadores, entre outros. “Não vejo em nenhum candidato a ideia de uma democracia de alta intensidade”, analisa. Para que uma real integração entre democracia representativa e participação direta seja possível, ele defende a eleição de uma Assembleia Constituinte para uma reforma política e eleitoral, livre e soberana. “Porque, com o Congresso que está aí, isso não é possível.”
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