Clara, a menina da perna rosa
(Fonte: Diário de Pernambuco)
Quando passam por amputações, as crianças costumam lidar melhor com essa nova fase que os adultos. Quanto mais jovem, mais fácil. O papel dos familiares nesse processo é fundamental. Não raro, eles também precisam de ajuda psicológica.
“Ela me perguntou se o pezinho dela tinha ido pro céu”. Ainda dói falar sobre o atropelamento que acabou provocando a amputação do pé direito de Maria Clara, hoje com quatro anos. Não à toa, “tem que ser forte” foi a última frase que Késsia Helena da Silva, mãe da menina, disse na entrevista a este especial, logo depois de falar sobre a curiosidade da filha em relação ao paradeiro do pé perdido em um acidente.
Clarinha tinha acabado de completar dois anos quando tudo aconteceu. Késsia, que à época tinha só 19 anos, havia levado a filha para passar o domingo na casa dos pais. Ela e a mãe, avó da menina, estavam na cozinha e achavam que a criança estava com o avô. Ele, por sua vez, acreditava que a neta estava com as outras mulheres da casa. Foi quando se ouviu um barulho. Clara, sem que ninguém percebesse, havia saído de casa pela garagem e foi atropelada por um ônibus.
“Foi meu pai quem tirou ela debaixo do ônibus. A perninha dela estava totalmente esmagada”, contou Késsia, devagar, como quem tenta lidar com um nó que insiste em travar a garganta. A voz ainda sai com dificuldade, o canto da boca trava e os olhos não sabem bem onde se fixar.
Késsia também era só uma menina. Ela entrou em choque. Desesperada, gritava. Não conseguiu pegar a filha nos braços nesse primeiro momento. Sentia medo e culpa, sentimento teimoso que, ainda hoje, a persegue. “Eu pensei que tinha acabado com a vida da minha filha”, disse ela, tão vítima daquele acidente quanto a menina.
Clarinha fez duas cirurgias. Graças à insistência da mãe, que pediu para os médicos esperarem um pouco mais, a segunda foi de reconstituição e não de amputação da perna. Passou-se um mês e 15 dias de internamento, antes do encaminhamento a um centro de reabilitação para que Clara recebesse um novo pé. Um dia, a menina, que costuma insistir quando quer alguma coisa, disse que queria que o novo membro fosse rosa. Mesmo sendo incomum, já que a prótese tem a função de substituir algum membro perdido e, por isso mesmo, costuma ser feita em tom semelhante à pele do usuário, a equipe do Imip se sensibilizou com o pedido e deu a Clara uma prótese da cor que ela queria.
Ativa e cheia de vontades, a filha mais velha de Késsia, que também é mãe de Clarissa, de 1 ano, faz tudo que qualquer criança faz. Brinca de boneca, anda de bicicleta, e vai à escola, onde estuda no Jardim 1. Tira e coloca a prótese sozinha. Não para quieta e dá até umas passadas sem prótese mesmo. Na escola, ao contrário do que Késsia temia, Clarinha não sofre bullying. É só mais uma criança. Como todas que estão ali. Com a diferença de que ela tem uma perninha rosa. E isso não é para qualquer uma.
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