Entrevista sobre Análises Bromatológicas com a biomédica Thaísa Gabriela
(fonte: Biomedicina Padrão – Brunno Câmara, biomédico)
A surubinense Thaísa Gabriela é biomédica graduada pela Associação Caruaruense de Ensino Superior e Técnico (Faculdade ASCES), com habilitação em Análises Clínicas e Análises Bromatológicas. Atualmente é mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição (área de concentração: Ciência dos Alimentos) pela Universidade Federal de Pernambuco.
Porque você escolheu Biomedicina?
Thaísa: Escolhi biomedicina na metade do meu ensino médio. Sempre gostei muito da parte dos bastidores que o laboratório proporciona. As áreas de atuação também me chamaram muito a atenção, principalmente na área científica, de pesquisa e inovação.
Como e quando foi o seu primeiro contato com a bromatologia?
Thaísa: Meu primeiro contato com a bromatologia foi por acaso. Vi uma notícia sobre o poder antimicrobiano das frutas e achei interessante. Procurei alguns artigos com o tema e enviei um trabalho de revisão de literatura para um congresso na faculdade onde me formei, que foi aceito na modalidade oral. Então procurei o professor que me orientou nessa revisão e vimos que era possível estender para uma iniciação científica. Nesse projeto trabalhei com a atividade antimicrobiana das cascas de romã frente a bactérias de origem hospitalar. Apesar de não ser a bromatologia, estritamente, me fez tomar mais gosto ainda pelos alimentos.
A partir daí, fiz parte (depois fui monitora) de um projeto de extensão que analisava a qualidade da água e de alimentos líquidos de escolas e creches da região agreste de Pernambuco. Nesse mesmo período fui monitora nas disciplinas de Parasitologia e Bromatologia, o que me ajudou na fundamentação teórica e nos principais métodos de análises de alimentos.
Obtive mais conhecimento prático na monitoria de Bacteriologia, que foi muito importante na segunda iniciação científica e no trabalho de conclusão de curso. Agora sim foi puramente análises bromatológicas! Desenvolvemos (dois colegas e eu) um projeto que avaliou a qualidade microbiológica e físico-química do leite cru comercializado na cidade de Caruaru-PE. Aprendemos técnicas novas, legislações e ações de controle de qualidade. Chegamos a divulgar os dados diretamente entre a população através de ações socioeducativas e obtivemos um feedback muito positivo.
Após isso me habilitei, através de estágio, em análises bromatológicas e agora estou no mestrado em Ciência dos Alimentos/Nutrição na UFPE, trabalhando com microencapsulação de probióticos (microrganismos com efeitos benéficos sobre a saúde) para aplicação em alimentos.
O que o biomédico está habilitado a fazer nessa área?
Thaísa: O biomédico bromatologista pode realizar todos os procedimentos microbiológicos, físico-químicos, microscópicos e toxicológicos que envolvam as análises dos alimentos e água. Isso envolve o controle de qualidade, detecção de fraudes e contaminantes e cumprimento das legislações.
O profissional habilitado nessa área, além da parte laboratorial, pode ser responsável técnico de serviços de alimentação, realizar auditorias em cozinhas e fábricas, elaborar manuais de boas práticas, procedimentos operacionais padrão e sistemas APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). Quem atua nesse campo pode se vincular a uma empresa ou prestar serviços de forma autônoma.
Onde o biomédico bromatologista pode atuar e como você avalia o mercado de trabalho para os biomédicos nessa área?
Thaísa: O bromatologista pode trabalhar em uma fábrica de alimentos ou serviços de alimentação (no controle de qualidade, na auditoria ou laboratório de análises) e em laboratórios privados que prestam esse tipo de serviço. Existem os laboratórios da rede pública, como o LACEN de cada estado, que atuam em parceria com as vigilâncias em saúde dos municípios, recebendo amostras de água mineral, água de consumo e alimentos suspeitos de causar toxi-infecções ou como medida de fiscalização, comparando os resultados encontrados in vitro com a composição descrita no rótulo e com os parâmetros da legislação vigente.
Ainda existe a possibilidade de atuar de forma autônoma através de consultorias, auditorias e elaboração de documentos pertinentes a essa área. Quem gosta de inovação pode atuar na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.
Com relação ao mercado de trabalho, a absorção do biomédico na parte laboratorial tem sido mais expressiva, devido à sua grande vivência prática obtida durante a graduação e pós-graduação. Os profissionais mais conhecidos por exercer cargos de responsabilidade técnica, auditoria etc. são nutricionistas, engenheiros de alimentos, químicos e farmacêuticos. Porém, nos últimos anos, o biomédico tem sido bem mais reconhecido, aceito e até procurado nessa função, inclusive em empresas multinacionais!
Com um currículo bem preparado para essa área e divulgação dessa habilitação pelas faculdades e conselhos, as possibilidades são bem maiores. Para quem tiver curiosidade, dê uma olhada no Google e na Plataforma Lattes e encontrará vários biomédicos exercendo esses cargos.
Quais os conselhos você dá para quem tem interesse em trabalhar com análises bromatológicas?
Thaísa: A bromatologia é uma área MUITO interessante e que sempre tem novidades. Hoje há um novo olhar sobre a alimentação. Cresceu o interesse em alimentos saudáveis e com alto padrão de qualidade. As indústrias e empresas de alimentação estão compreendendo a importância de fornecer produtos seguros. Além disso, a população está sempre à procura de alimentos novos, práticos, saudáveis e agradáveis, abrindo mais uma porta de atuação – a pesquisa e o desenvolvimento de produtos.
Quem estiver na graduação e tiver interesse na bromatologia deve seguir alguns passos, como eu e diversos outros colegas fizemos. Desenvolver iniciação científica, trabalho de conclusão de curso e monitoria na área vão oferecer maior intimidade com as técnicas de análise, esterilização e com o laboratório, de forma geral. Assim como cursos complementares, vão auxiliar bastante também no conhecimento teórico e confirmar se é isso que quer seguir profissionalmente.
Para quem realmente quer a habilitação, é necessário realizar um estágio supervisionado de no mínimo 500 horas. Entretanto, caso a faculdade/universidade não possua vínculos de estágio na área de análises bromatológicas, a habilitação pode ser obtida através de pós-graduação lato ou stricto sensu, com pelo menos 360 horas e em instituição reconhecida pelo MEC.
Considerações finais.
Thaísa: Para seguir carreira na bromatologia é importante investir em si próprio. É preciso sempre correr atrás, tentar se diferenciar e buscar dicas com profissionais já estabelecidos na área.
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