Ex-assessor de Eduardo Campos relembra trajetória política do ex-governador
(fonte: Jornal do Commercio)
O Jornal do Commercio inicia neste domingo série de reportagens sobre Eduardo Campos e Miguel Arraes, que morreram no dia 13 de agosto – o avô em 2005 e o neto no ano passado. A seguir, o jornalista Evaldo Costa, que foi assessor de comunicação de ambos, fala sobre a trajetória política de Eduardo. As reportagens sobre os dois ex-governadores serão publicadas até a sexta-feira (14).
Em maio de 1992, uma ruptura política traz a público divergências que vinham latentes desde a volta de Arraes do exílio. Na definição da lista de candidatos a prefeito do Recife na eleição de outubro 1992, dois antigos aliados – o ex-prefeito Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o jovem deputado estadual Eduardo Campos – se revelam adversários e, pela primeira vez, se enfrentam nas urnas.
Presidente eleito – mas ainda não empossado – do Sindicato dos Jornalistas, trabalho com a ajuda de outros membros do grupo hegemônico na direção – Beto Rezende, Jair Pereira e outros – para sinalizar apoio ao nosso candidato, Eduardo Campos. Não era uma tarefa fácil, considerando a pluralidade da entidade e até mesmo pela composição da nova diretoria, que de tão ampla foi responsável por uma eleição sem concorrentes.
O combinado era a visita do candidato à diretoria. O comando da campanha de Eduardo trabalharia a divulgação. No dia marcado, chegam Eduardo, o candidato a vice, Roldão Joaquim, Pedro Eugênio, Homero Fonseca e vários outros. Na mesa da sala de reuniões, ouvimos atentos as propostas do candidato. A operação foi bem-sucedida. Foram feitas fotografias, mas não imagens para o guia eleitoral. Obviamente, aquele apoio, ainda mais sendo amarrado como era, não mudaria o destino da candidatura. Jovem demais – tinha 27 anos – e marcado pelo grande racha, Eduardo acabou tendo menos votos que outros candidatos.
Quem acompanhou de perto a campanha, porém, não teve dúvidas de que, em seu único insucesso eleitoral, Eduardo já pôde exibir algumas das características que fizeram dele o mais amado dos lideres políticos pernambucanos. Com bravura, cumpriu todas as etapas da campanha. Do começo em que sua postulação parecia estranha e era recebida com preconceito, ao final, quando fugiam os apoios, escasseavam os recursos e a falta de estrutura esvaziava o comitê. Finda a campanha, restaram as dívidas. O dono de uma gráfica recebeu o carro particular do candidato como pagamento por serviços prestados e empréstimos pessoais acalmaram outros credores. Quando retornou à Assembleia, Eduardo havia amadurecido uma década. Quando dizia – “já vi a roda gigante da politica de baixo, de lado e de cima” – era esse um dos momentos a que se referia. Desde então, nunca mais fez uma campanha sem o planejamento adequado, sem conhecer bem as dificuldades. Quando ia se candidatar a governador em 2006 ouviu de Arraes, em abril de 2005, uma pergunta balizadora: você suporta perder esta eleição? A pergunta martelou em sua cabeça por meses. Mas a resposta estava na ponta da língua em março de 2006, quando teve com o então prefeito João Paulo (PT) uma conversa definidora. – João, não sei quem vai ser o candidato do PT a governador, se você ou Humberto. Mas eu quero dizer que, se eu fosse você, eu seria, disse. João Paulo ouvia tudo atentamente e Eduardo continuou: – Digo isso porque quero que você saiba que eu serei candidato de qualquer maneira. Para ganhar, para perder, para ter 2%, 10%, o que for, disse, ciente de que – com 6% das pesquisas no melhor cenário – poucos acreditavam que ele, de fato, concorreria. Para afirmar com tanta convicção, Eduardo havia, de fato, cumprido as etapas de uma preparação extremamente cuidadosa. Desde a eleição de 2002, ele investigava o humor do eleitor pernambucano recorrendo a todos os instrumentos disponíveis – das conversas com políticos experimentados às pesquisas qualitativas e quantitativas. Logo em seguida veio a nomeação para o Ministério da Ciência e Tecnologia, onde destacou-se. Em 2004, já ministro, chegou a considerar a possibilidade de ser candidato a prefeito, mas foi desaconselhado por Arraes. Em abril de 2005, enquanto a crise do mensalão recrudescia, percebeu que chegara o momento do grande salto. Numa reunião em Brasília, cercado por amigos e por seus analistas de pesquisa e de comunicação, percebeu que havia um um espaço para posicionar a candidatura. Mais precisamente, um eleitorado à espera de uma opção. Não o eleitor que, em 2002, havia votado em Humberto Costa (PT), mas o que reelegera Jarbas Vasconcelos. Em suma, sem identidade com o candidato Mendonça Filho (DEM), o eleitor jarbista estava pronto para fazer outra escolha. A mudança era tão grande que foi preciso passar por cima de uma estratégia articulada com Humberto e Armando Monteiro (PTB) para atacar, de forma coordenada, as fragilidades do governo nos programas partidários estaduais de televisão. – Não sou o anti-Jarbas. Sou o pós-Jarbas – disse ele numa entrevista ao Jornal do Commercio, conduzida pelo jornalista Inaldo Sampaio. Seguida à risca, a estratégia o levou à vitória naquele segundo turno das eleições de 2006, possibilitou a condução de um governo bem-sucedido e muito bem aprovado e possibilitou, em 2010, a histórica revanche com Jarbas Vasconcelos, quando obteve um resultado que ninguém seria capaz de imaginar tomando por base o embate de 1992 e, principalmente, a avassaladora vitória de Jarbas sobre Arraes em 1998.
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