Hospitais de PE operam com cerca de 50% da capacidade, mas faltam EPIs

É graças à quarentena e à pouca movimentação nas ruas do Recife e região metropolitana que os hospitais da RMR ainda não estão colapsados. Mas a situação pode mudar a qualquer momento, já que o número de casos confirmados no país como um todo vem crescendo geometricamente. Segundo a Secretaria estadual de Saúde, atualmente a taxa de ocupação média nos leitos dos três hospitais de referência destinados aos casos suspeitos e confirmados da Covid-19 tem se estabilizado numa média de 50%.
 
As unidades são o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), que possui 59 leitos (sendo 49 de enfermaria e 10 de UTI), cinco no Correia Picanço (5 de UTI) e 21 no Imil (9 de enfermaria e 13 de UTI). Dos três, a pior situação hoje é a do Oswaldo Cruz, que já está operando com mais de 90% de sua capacidade, de acordo com profissionais de saúde que trabalham na unidade. O principal problema dos hospitais, até o momento, diz respeito à falta de equipamentos de proteção individual e de mão-de-obra.
 
No Hospital Oswaldo Cruz, por exemplo, pela insuficiente quantidade de EPI para o número de pacientes suspeitos que chegam diariamente à unidade, a dinâmica de trabalho precisou ser organizada de forma a reduzir ao máximo o uso dos EPI’s. Os profissionais que coletam as amostras de sangue precisam fazer a coleta uma vez por dia porque não há equipamento disponível para várias coletas por dia. Mas para quem precisa lidar diretamente com o paciente para administração de remédios, colocar e retirar acessos, entregar alimentação e dar banho em alguns casos, como auxiliares e técnicos de enfermagem, a situação é muito delicada.
 
“A máscara N95 é dada para passar cinco dias para quem trabalha na UTI geral. Outros setores, como o pessoal que trabalha no laboratório do Lacen-PE, estão sem e usam máscara cirúrgica normal e óculos. A máscara cirúrgica é dada para passar 12 horas e tem dia que falta. Tem plantão que temos avental descartável de TNT mas em outros temos que assumir sem EPI. Já aquelas roupas impermeáveis só usa quem é do Samu. Essa situação é ruim para nós, porque não podemos nos prevenir de maneira adequada, e para os pacientes, porque a infecção de um doente pode passar para alguém sadio. Além disso, não tivemos uma capacitação adequada para lidar com o paciente de Covid-19. Por enquanto, não há médicos e enfermeiros adoecendo, mas se continuar assim, é só uma questão de tempo”, relatou um funcionário que trabalha no Oswaldo Cruz.
 
De acordo com outros funcionários, os pavilhões estão sempre cheios, há uma grande rotatividade das ambulâncias chegando com pacientes suspeitos para a Covid-19 mas não existe superlotação e cada paciente tem seu leito. “Eu não quero nem pensar se o governo de Pernambuco não tivesse adotado medidas de contenção rapidamente como ficaria a situação dos hospitais daqui”, declarou uma funcionária do Huoc. Alguns profissionais de saúde, sem aguentar a carga de trabalho e pelos riscos que a atividade exige, chegaram a pedir exoneração dos cargos públicos no Oswaldo Cruz.

Foto: Reprodução Google Street View

A situação se repete no Hospital Correia Picanço, que também é uma unidade de referência, e conta apenas com cinco leitos para crianças em estado grave. “Só estamos fazendo exames em pacientes graves e por isso o hospital está sempre lotado, chegam muitos casos. E aí falta luva, máscara de todo tipo, capote. Nós temos feito pedido de doação a outros hospitais”, contou uma funcionária.
 
Já no Imip, há disponibilidade de EPI até então e estão desprezando máscaras a cada 12 horas, prática que nem todo hospital mantém. “Mas limitam o uso de EPIs por profissionais, para evitar estragos ou uso desnecessário. Fora isso, não estão tendo muito controle de estratégias de isolamento. A porta não tem nenhum instrumento de liberação para quem está dentro, como uma trava. Qualquer pessoa, profissional, entra. E a UTI está sendo usada como clínica. Por exemplo, tem um gasômetro: todo mundo entra na UTI para usar o gasômetro usando apenas máscaras n95 . E saem de lá. Ninguém sabe como essas pessoas acondicionam ou descartam a máscara. São poucas as informações sobre como fazer com esses materiais”, informou um profissional de saúde.

Foto: João Velozo/DP Arquivo/D.A Press

Já os pacientes, de acordo com os relatos, nem sempre estão usando o sistema fechado de aspiração. “Fica o paciente consciente, orientado e tossindo. Significa que os profissionais ficam mais expostos. Protocolo existe, mas falta a cobrança da aplicação dele”, afirmou uma funcionária. A biblioteca do Imip também continua funcionando normalmente e aberta ao público.
 

Foto: Reprodução Facebook

Outros hospitais
 
Nas unidades de saúde públicas que ainda não estão recebendo pacientes confirmados para a Covid-19, o maior receio também é a escassez de equipamentos de proteção individual. “Álcool em gel é um item menos acessível, mas pelo menos aqui no Hospital Getulio Vargas não vejo faltar água e sabão. Os pacientes graves, suspeitos para a Covid-19, são encaminhados para o Oswaldo Cruz”, disse um profissional de saúde do Getulio Vargas.
 
No Hospital da Restauração, funcionários relatam ser a pior situação entre as grandes unidades de saúde do estado. Em alguns setores, falta sabão, máscaras e álcool em gel. Alguns espaços não têm janelas e os profissionais de saúde precisam ficar horas com os pacientes nessas áreas. Alguns funcionários relataram dificuldades e despreparo de gestores. “Os profissionais idosos e com comorbidades precisam apresentar atestados e exames à junta médica para serem liberados, só que eles não estão tendo acesso aos médicos e isso leva tempo”, queixou-se um funcionário do HR.
 
Realidade da saúde privada

Foto: Peu Ricardo/Arquivo DP Foto

No Real Hospital Português, que tem recebido muitos casos suspeitos da Covid-19, as UTIs estão cheias e a ocupação dos leitos fica em torno de 50%. De acordo com um profissional que trabalha na unidade de saúde privada, em termos de racionalização de equipamentos de proteção individual, a realidade é bem parecida com a da rede pública.
 
“Eles estão dando uma cota mínima para o funcionário por plantão. Se há necessidade, a ser avaliada pela enfermeira, são liberadas mais máscaras, por exemplo. O protocolo com as máscaras N95 também vai mudar. Inicialmente ela seria desprezada a cada 12 horas, mas agora vai ser guardada por sete dias em envelope individual com nome do profissional, com identificador e data do início do uso. O Português alega para os funcionários que já encontra dificuldades de insumos no mercado, por isso é preciso racionar o uso”, contou um profissional do RHP.
 
(fonte: Diario de Pernambuco)

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