Índice global aponta aumento da fome no Brasil
O Brasil caiu 13 colocações no Índice Global da Fome deste ano em comparação com dados divulgados em 2017, refletindo uma tendência na direção equivocada mundo afora, alerta a Ação Agrária Alemã (Welthungerhilfe), uma das organizações responsáveis pelo índice atualizado anualmente.
Publicado nesta quinta-feira 11, o índice compilado também pela organização irlandesa Concern Worldwide e pelo Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) coloca o Brasil em 31° lugar entre 119 países, com 8,5 pontos, um valor que ainda é considerado baixo.
O Brasil obteve 5,4 pontos no índice de 2017, indicando que uma menor parcela da população passava fome. No ano passado, o país também figurava entre as nações que conseguiram diminuir a fome em mais de 50% a partir de 2000.
O estudo anual calcula o índice de fome com base nos dados consolidados mais atuais relativos a quatro indicadores: subnutrição, caquexia infantil (grau de extremo enfraquecimento e emagrecimento), atraso no crescimento e mortalidade infantil.
Para calcular os valores para 2018, as organizações compilaram dados internacionais relativos à subnutrição no período de 2015 a 2017. Os dados sobre o retardo do crescimento e a caquexia levaram em consideração o período entre 2013 e 2017, com os dados mais atuais disponíveis. E a mortalidade infantil levou em conta os dados de 2016.
Para observar a evolução no longo prazo, o índice indicou como referência os anos de 2000, 2005 e 2010. O Brasil registrou queda constante da fome nos períodos analisados, com uma média respectiva de 13, 7 e 6,6 pontos, respectivamente. Entre 2010 e 2018, a média voltou a subir, para 8,5 pontos.
Por outro lado, tanto o percentual de pessoas subnutridas no Brasil quanto o da mortalidade infantil diminuíram nos períodos de referência. No início do século, 11,9% da população brasileira sofria de subnutrição. Em 2018, são 2,5%, e a tendência dessa é de queda, mostram os gráficos do estudo divulgados no site do índice.
As taxas de mortalidade de crianças com menos de cinco anos de idade também caíram nos períodos analisados, ainda que a curva seja mais rasa: de 3,6% em 2000 para 1,5% em 2018.
Já a taxa de disseminação da caquexia entre crianças com menos de cinco anos aumentou de 1,6% em 2005 para 5,5% em 2018, e o atraso no crescimento também registrou alta entre 2005 e 2018: de 7,1 para 13,4%.
A escala do Índice Global da Fome vai de 0 (sem fome) a 100 e tem as categorias “baixo” (de 0 a 9,9 pontos), “moderado” (de 10 a 19,9 pontos), “sério” (20 a 34,9 pontos), “muito sério” (36 a 49,9 pontos) e “grave” (número de pontos igual ou maior a 50).
Alerta contra aumento de famintos
Apesar de o índice de fome no mundo ter caído 28% desde 2000, o número de pessoas que passam fome no planeta aumentou para 821 milhões de pessoas, em parte devido a conflitos armados e efeitos das mudanças climáticas.
Segundo o especialista Klaus von Grebmer, da Ação Agrária Alemã, a tendência voltou a ir “na direção errada”. “Se o ritmo do combate à fome continuar igual, 50 países não conseguirão eliminar a fome até 2030 (meta global)”, disse a organização em comunicado nesta quinta-feira, durante a apresentação do relatório.
Em 51 países do mundo, a Ação Agrária Alemã avalia a situação como preocupante ou muito preocupante. A presidente da organização, Bärbel Dieckmann, exigiu mais empenho na eliminação de conflitos. “Não podemos vencer essa luta sem soluções políticas”, afirmou.
As crianças são o grupo mais atingido pela fome no mundo: 151 milhões apresentam atraso no crescimento devido à subnutrição, e 51 milhões de crianças sofrem de extremo enfraquecimento e emagrecimento.
Das 821 milhões de seres humanos que passam fome no mundo, cerca de 124 milhões sofrem de fome aguda, diz a Ação Agrária Alemã. O número representa um aumento expressivo em relação aos 80 milhões computados há dois anos, diz o Índice Global da Fome.
A última colocada do ranking de países é a República Centro-Africana, onde a situação é considerada grave, com um índice de 53,7 pontos. Em 2012, eclodiu uma guerra civil no país, opondo milícias da maioria cristã a grupos da minoria muçulmano. A situação se estabilizou com uma intervenção militar francesa e uma missão de paz da ONU enviada ao país, mas novos conflitos começaram em 2017.
Em outros sete países – Burundi, República Democrática do Congo, Eritreia, Líbia, Somália, Sudão do Sul e Síria – nos quais não se pôde aplicar o índice por não haver dados disponíveis, a situação da fome e da subnutrição é considerada preocupante.
Os maiores níveis de fome regionais foram registrados no sul da Ásia e na África subsaariana. “Nas duas regiões, os níveis de subnutrição, atraso no crescimento infantil, caquexia e mortalidade são inaceitavelmente altos”, diz o relatório, que aponta ainda que países com conflitos armados registram níveis duas vezes mais altos que o resto do mundo.
Segundo o relatório, a América Latina foi a região com os menores índices de fome do estudo. Com uma média de 14 pontos em 2000, os países latino-americanos reduziram os critérios avaliados para 9 pontos em 2018, um índice considerado baixo pela organização.
Apesar dessa notícia parecer animadora, as autoras do estudo alertam que a América Latina e o Caribe também são exemplo simbólico para as disparidades entre os diferentes países da região.
“O Haiti é um dos apenas sete países do relatório deste ano que apresentaram um índice classificado como muito sério ou grave”, diz o documento.
Outros exemplos positivos citados no índice foram Angola, Ruanda, Etiópia e Myanmar, com melhorias de mais de 45% no Índice Global da Fome.
(fonte: Carta Capital)
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