Na Casa de Eduardo Cunha, mulher obedece
O presidente da câmara quer agora controlar, além da TV Câmara que irá para as mãos de um deputado evangélico, as parlamentares mulheres.
OPINIÃO de Maurício Moraes (Carta Capital) /// A obsessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por controlar todos os aspectos da Câmara dos Deputados (e da vida dos brasileiros) parece não ter fim. Já é dado como certo que, pela primeira vez na história, a TV Câmara sairá das mãos de um profissional técnico e passará para as de um deputado evangélico. Mas isso é ainda pouco. O líder-mór dos fundamentalistas quer agora controlar as parlamentares mulheres.
Basta andar pelos corredores do Congresso, em Brasília, para sentir a onipresença do deputado (e sua onipotência). Cunha é praticamente um semideus adulado pelos picaretas, os mesmos que fizeram lobby para a farra de passagens aéreas para suas esposas. E as maldades moram nos detalhes. Cunha decidiu intervir no processo de composição da Secretaria de Mulheres da Câmara. Até hoje, o comando da “bancada feminina” era assunto de mulher, já que elas sempre tiveram autonomia para escolher sua secretária e sua coordenadora.
Como 11 partidos sequer têm representantes mulheres, esse era a única secretaria da Câmara onde elas formulavam as próprias regras de eleição e decidiam as coisas em consenso. Até chegar Eduardo Cunha… Agora o presidente quer fazer valer aí o mesmo critério para composição de outras comissões. Ou seja, o maior bloco de partidos (que é liderado pelo PMDB de Cunha, com 256 parlamentares e cia indigesta) indica quem estará a frente da bancada. E estes são justamente os partidos com menor representação feminina. O critério é no mínimo falho, senão ilegítimo.
A nova equação pode ter um resultado desastroso. A Secretaria de Mulheres deve acabar sob o comando indireto do líder dos fundamentalistas por meio de uma deputada aliada, conforme temem parlamentares com quem conversei. Aquela história de debater aborto só por cima de seu cadáver faz agora todo o sentido.
Por isso, não se assustem se virem em breve no comando da bancada feminina uma deputada conservadora, carola e que tenha chegado na Câmara apenas pelo fato de ser esposa de um politico qualquer. Essa disputa é importante já que a coordenadora tem assento no Colégio de Líderes da Casa e pode influir no andamento das votações.
No mais, se alguém aguarda algum debate de fôlego na TV Câmara sobre assuntos de direitos humanos, pode ficar apenas na espera. Já é considerado fato dado que, pela primeira vez na história o comando da TV irá para as mãos de um parlamentar. E o nome deve ser o do deputado Cleber Verde, do PRB do Maranhão. Evangélico, é claro. Se Cunha já anda promovendo cultos religiosos no Congresso, me causa calafrios saber o que pode vir na programação da nova TV Câmara. Que o Estado laico nos proteja. Amém.
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