O fim de um ciclo – Caça-Rato fora do Santa Cruz
(escrito por: Roberto Dantas)
Muito se falou sobre Flávio Caça-Rato nos últimos anos. Do jornal mais pobre de Pernambuco ao The Guardian, Flávio Augusto do Nascimento foi notícia. De antemão, afirmo que o extracampo sempre foi o forte dele. Caça nunca foi um grande jogador de futebol. Talvez por isso mesmo todo o folclore que sempre o cercou.
Este que vos escreve nunca foi um grande jogador de futebol. Minha qualidade técnica dentro do campo foi, é e sempre será inversamente proporcional à paixão que nutro pelo esporte e, em especial, pelo Santa Cruz. Muito provavelmente essa é uma das razões pelo qual sentia uma grande simpatia pelo atacante – muito embora não quisesse vê-lo figurando entre os titulares há muitos anos. Apesar disso, a gratidão ao jogador tem que ser expressa em qualquer texto que fale da (agora no passado) passagem do atacante pelo Santa Cruz. Os números jamais expressarão a importância dele para a equipe coral.
Os momentos de glória de um jogador são mais numerosos se ele tiver qualidade reconhecida, evidentemente. Quando essa qualidade não transborda, ou mesmo quase que inexiste, sobram os lapsos: aquele momento de luz em que tudo dá certo, e, por alguns minutos, você faz o que ninguém esperava. No caso de Flávio, idolatrado pela maioria da torcida do Santa Cruz, ele tinha lapsos onde fazia tudo que se esperava dele. E mais um pouco.
Quis o destino que Flávio Caça-Rato tivesse seu momento de glória associado a todos os momentos de glória da equipe coral nos anos da reestruturação: 2011, 2012, 2013, 2014. Dos quatro títulos que a equipe conquistou, Caça-Rato participou de três (não fazia parte da equipe no único título em que não esteve). Mais do que isso: Caça-Rato se tornou um improvável algoz do maior rival, o Sport. Contra eles, Flávio se transformava. Finalizador de qualidade duvidosa (20 gols em 124 jogos), cansou de fazer gols e dar assistências contra o maior rival. Entrou no segundo tempo de um jogo decisivo da Série C para fazer o tento que sacramentava o acesso à Série B. Não satisfeito, fez o gol que garantiu o título da Terceirona do mesmo ano.
O que faltava em futebol, sobrava em carisma e em vivência. Caça-Rato conseguiu driblar a morte e outras dificuldades do cotidiano que cercam a criança pobre nascida na periferia recifense. Com o futebol, deixou para trás um cenário do qual muitos jamais conseguiram se esquivar. Com o Santa Cruz, ganhou notoriedade. Mais do que isso: foi parte fundamental na retomada da dignidade do torcedor coral, tão sofrido pelos anos de rebaixamentos e humilhações sucessivas. Caça-Rato e Santa Cruz fizeram muito bem um ao outro. Em 2015, Caça-Rato vestirá as cores de outro clube. Mas cravou seu nome de forma inconteste dentro do Tricolor do Arruda.
Caça-Rato fora de campo era um jogador folclórico. Dentro de campo, melhor dizendo, dentro dos jogos decisivos, se tornou uma lenda. Que Flávio Augusto do Nascimento nunca será um craque, a gente já sabe. Mas, por mim e pela torcida tricolor: muito obrigado por tudo, Caça. E boa sorte no Remo.
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