Pobres do Brasil: condenados à desesperança

Desde o triunfo nas urnas, Jair Bolsonaro fez algumas reuniões com líderes partidários em busca de apoio para seu futuro governo. Uma delas foi com deputados do MDB de Michel Temer, o homem que lhe passará a faixa dessa maneira: em uma das mãos, recorde de impopularidade presidencial, 74%. Na outra, mais uma denúncia à Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro. A terceira, agora por causa do Porto de Santos. Era 4 de dezembro, e Bolsonaro levou seus apoiadores empresariais ao delírio. “É horrível ser patrão no Brasil”, disse ele aos emedebistas, ao prometer mudanças na lei trabalhista. É provável que 54,8 milhões de brasileiros tenham opinião diferente. Horrível é ser pobre como eles em um país em que a condição social ao nascer praticamente decide o destino, devido à histórica baixa mobilidade social, atestada por um organismo internacional ao qual Temer tentou aderir, a OCDE. A “meritocracia”, aquela crença no sucesso dos esforçados e capazes, é um mito que começa a ser cientificamente desmontado.
 
O batalhão dos pobres em 2017 correspondia a 26,5% da população. Um a cada 3,7 habitantes. É a soma dos três estados da Região Sul, de Minas Gerais e do Espírito Santo. Uma África do Sul inteira. Fossem os pobres daqui um país à parte, formariam o 25o mais populoso, ao lado justamente dos sul-africanos. De 2016 (pobreza de 25,7%) para 2017, 2 milhões de pessoas tornaram-se pobres. Órgão oficial das estatísticas, o IBGE calculou o tamanho da pobreza com base em um critério do Banco Mundial, pois não há uma regra nacional específica. Em nações do porte econômico como o Brasil, consideram-se pobres todos aqueles que vivem com menos de com 5,5 dólares diários (406 reais por mês em 2017, segundo o IBGE).
 
Na Síntese dos Indicadores Sociais de 2018, divulgada pelo IBGE no início de dezembro, vê-se ainda o avanço da pobreza extrema. Esta é caracterizada como renda inferior a 1,9 dólar por dia, valor tido pelo Banco Mundial como o mínimo do mínimo para uma pessoa sobreviver. Havia 15,2 milhões de miseráveis em 2017 (7,4% da população), 1,7 milhão a mais que em 2016 (6,6%). É o critério do banco que embasa um acordo global, do qual o País faz parte, de eliminar a miséria até 2030. O Bolsa Família, pago a 13,7 milhões de pessoas, leva em conta esse parâmetro.
 
(fonte: Carta Capital)

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