Socialista e muçulmano, Mamdani tem vitória histórica contra candidato de bilionários e é eleito prefeito de Nova York

O socialista democrático Zohran Mamdani conquistou uma vitória histórica na eleição para prefeito de Nova York nesta terça-feira (4), derrotando o ex-governador Andrew Cuomo por mais de oito pontos percentuais e se tornando o primeiro prefeito muçulmano da maior cidade dos Estados Unidos.

A Associated Press declarou o resultado apenas 34 minutos após o fechamento das urnas, com Mamdani mantendo uma liderança confortável sobre Cuomo com 75% dos votos apurados.

Com 91% das urnas apuradas, Mamdani havia conquistado mais de um milhão de votos na corrida para prefeito, em comparação com cerca de 850 mil votos para Andrew Cuomo. O total de Mamdani, no momento, de 1.036.051 votos, já é o maior que qualquer candidato à prefeitura de Nova York conquistou desde 1965, quando o republicano John Lindsay venceu com 1.149.106 votos, segundo os registros da cidade.

Em discurso de vitória no bairro do Brooklyn, Mamdani colocou sua vitória no contexto da resistência ao governo do republicano Donald Trump. “Se há alguma forma de aterrorizar um déspota, é desmantelando as próprias condições que lhe permitiram acumular poder”, disse o prefeito eleito.

“Não é apenas assim que paramos Trump, é assim que paramos o próximo.”

Mamdani mandou um recado direto para o presidente estadunidense: “Donald Trump, já que sei que está assistindo, tenho quatro palavras para você: aumente o volume [Turn the volume up]”, uma expressão que pode ser traduzido como “preste atenção” ou “fique esperto”.

Além de Mamdani, as democratas Abigail Spanberger e Mikie Sherrill venceram as eleições para os governos dos estados de Virgínia e Nova Jersey, respectivamente, com fortes críticas às políticas de Trump em suas campanhas.

Participação recorde impulsiona vitória histórica

A eleição registrou participação sem precedentes dos eleitores nova-iorquinos. Segundo a Junta Eleitoral da cidade de Nova York, 735.317 residentes votaram durante o período de nove dias de votação antecipada – mais de quatro vezes os 169.879 eleitores antecipados da eleição municipal de 2021. A participação total ultrapassou dois milhões de eleitores, nível não registrado em uma eleição para prefeito desde 1969.

A trajetória de Mamdani até a vitória começou com um improvável triunfo nas primárias em 24 de junho, quando derrotou Cuomo nas primárias do Partido Democrata por 12 pontos percentuais, apesar de estar com apenas 1% nas pesquisas em fevereiro. Em vez de aceitar a derrota, Cuomo lançou uma campanha independente para a eleição geral, apoiado por uma injeção sem precedentes de financiamento de bilionários.

Relatórios de financiamento de campanha mostram que doadores bilionários contribuíram com aproximadamente US$ 40 milhões para super Comitês de Ação Política (PAC, na sigla em inglês) que apoiavam Cuomo e se opunham a Mamdani. O gestor de fundos hedge Bill Ackman, proeminente apoiador do presidente Trump, doou um milhão de dólares ao Defend NYC, um super PAC anti-Mamdani.

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, cuja fortuna é avaliada em US$ 109,4 bilhões, contribuiu com US$ 1,5 milhão para o “Fix the City”, o principal super PAC pró-Cuomo. Joe Gebbia, cofundador da Airbnb, doou um milhão de dólares para a mesma organização.

Apoio de Trump e Musk a Cuomo

Nos dias finais da campanha, figuras conservadoras de alto perfil se mobilizaram em apoio a Cuomo. No dia anterior à eleição, o bilionário Elon Musk, homem mais rico do mundo e proprietário da plataforma X, interveio a favor de Cuomo. “Lembrem-se de votar amanhã em Nova York!”, escreveu Musk. “Tenham em mente que um voto em Curtis é na verdade um voto em Mumdumi, ou seja lá qual for o nome dele”, referindo-se ao candidato republicano Curtis Sliwa, que alguns conservadores denunciaram por potencialmente dividir o voto entre ele e Cuomo. “VOTEM EM CUOMO!”, postou Musk.

O próprio presidente Trump emitiu um apoio morno a Cuomo no período que antecedeu o dia da eleição. “Não sou fã de Cuomo de um jeito ou de outro, mas se for entre um democrata ruim e um comunista”, disse Trump em entrevista ao programa 60 Minutes exibida no domingo (2), “vou escolher o democrata ruim o tempo todo, para ser honesto com você”.

Trump intensificou seus ataques nos dias 3 e 4 de novembro, emitindo uma série de declarações em seu perfil na plataforma Truth Social. “Se você é de Nova York, você realmente não tem escolha. Você deve votar nele e esperar que ele faça um trabalho fantástico”, escreveu Trump, ameaçando reter fundos federais para a cidade de Nova York caso Mamdani fosse eleito, reduzindo-os ao “mínimo exigido”.

Mamdani respondeu de forma irônica nas redes sociais: “Parabéns, Andrew Cuomo. Sei o quanto você trabalhou duro para isso”. Durante a campanha, Mamdani sugeriu que as políticas mais conservadoras de Cuomo conquistariam o favor de Trump e seu círculo íntimo de bilionários.

“A diferença entre mim e Andrew Cuomo é que minha campanha não é financiada pelos mesmos bilionários que colocaram Donald Trump em Washington”, disse Mamdani durante o primeiro debate antes das primárias democratas em junho.

Plataforma focada em custo de vida

A plataforma de Mamdani concentrou-se consistentemente na crise do custo de vida em Nova York, uma das cidades mais caras dos Estados Unidos. Suas propostas incluem congelar o aluguel para 2,4 milhões de inquilinos em unidades com aluguel estabilizado, tornar os ônibus da cidade gratuitos e implementar mercados municipais para manter os preços dos alimentos baixos.

Em seu discurso de vitória, Mamdani reiterou suas principais políticas e como elas contrariam a agenda de Trump. Elas incluíram um plano para responsabilizar proprietários de imóveis pela forma como tratam inquilinos, acabar com uma “cultura de corrupção” que beneficiou a classe bilionária e expandir proteções trabalhistas. “Porque sabemos, assim como Donald Trump sabe, que quando os trabalhadores têm direitos férreos, os patrões que buscam extorqui-los se tornam muito pequenos”, declarou.

A posse de Mamdani está prevista para 1º de janeiro de 2026.

*Com informações de People’s Dispatch e Truthout.