Temer: por que o comandante do desembarque ficou no avião?
(fonte: Carta Capital/Fábio Terra)
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Uma coisa interessante no Brasil é que fenômenos paranormais não acontecem apenas no cair da noite, mas são inclusive transmitidos ao vivo pela televisão e aparecem nas fotos das capas dos jornais, sempre deixando um monte de perguntas e poucas respostas. Uma destas aparições assombrosas aconteceu quando o PMDB resolveu desembarcar do governo para o qual foi eleito em 2014, ou seja, o governo saiu do governo.
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Mais assustador do que o desembarque do PMDB do governo, Michel Temer permanecer embarcado na vice-presidência do Brasil, mais especificamente, na vice-presidência do governo do qual ele saiu. Penso com minha ainda, acredito, sã consciência: ele pediu para sair do casamento, mas não quer sair de casa. Por quê? A informação oficial – que talvez devemos compreender como aquela em que acham que acreditamos – é a de que Temer foi eleito para o cargo, logo, dele não pode desembarcar.
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Assombrado, reflito: então, será que ele foi eleito para o cargo e não para governar a partir do cargo? Seriam, agora, estas coisas dissociáveis no Brasil? Parece-me que sim, embora nas eleições de 2014 não houve candidaturas avulsas para presidente e vice. Outro argumento lançado é o de que, com a renúncia do vice, o cargo ficaria vago até o fim do mandato ao qual ele foi eleito e, assim, surgiria um vácuo institucional perigoso, pois no caso do muito provável impeachment de Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assumiria a Presidência.
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Tão assombroso quanto o susto da mera possibilidade de o presidente da Câmara assumir a presidência da República, é o seguinte raciocínio: se Temer não desembarcou por causa do possível vácuo institucional no cargo de vice, por que ele não se inquieta com a instabilidade institucional possivelmente causada pela queda daquela com quem ele se candidatou como vice? Será que o olhar preocupa quando enxerga a Câmara, mas excita se a vista alcança o Planalto?
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É, fenômenos paranormais não são fáceis de acreditar, embora na política brasileira o inacreditável aconteça por ser tão óbvio e cristalino. O fenômeno do momento é o PMDB, do vice-presidente eleito para o governo, deixar de ser governo por querer ser governo. Assusta sair-se de um governo democraticamente eleito por se querer assumir o governo pela queda de uma governante com boa chance de ser legislativamente impedida. Se o impeachment é iminente, a ponto de se deixar Dilma cair sozinha, não seria mais digno, justo e democrático articularem-se, com a força oculta do PMDB, novas eleições?
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O que temer, Temer? Talvez o voto do povo, que não é fantasma.
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