Tinha uma Igreja no meio do caminho
(fonte: Diário de Pernambuco)
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Quem pensa que a igreja abre caminhos pode até ter provas legítimas de que é verdade, mas a “fé” do governo federal não deve funcionar muito bem, principalmente em Pernambuco. A obra da ferrovia Transnordestina é o retrato claro. A construção está parada por conta da Igreja São Luiz Gonzaga, que já virou famosa em Custódia por “travar” o trem de passar. Há pelo menos dois anos, e desde então, não há oração que faça essa obra andar e quebrar a ironia de integrar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Especialistas alertam para os equívocos do planejamento da obra até a execução e garantem que o simbolismo da igrejinha representa a falta de prioridade com o projeto. Além disso, pela importância para o país, reforçam que não deveria ser tratada como item político. O Ministério dos Transportes não apresenta sequer uma previsão de conclusão nos últimos relatórios do PAC.
“A obra estoura todos os orçamentos previstos e não tem qualquer utilidade para a economia. O custo partiu de R$4,5 bilhões em 2006 e chegou a R$ 11,2 bilhões atuais. A previsão de entregar em 2010 também foi ignorada. A última previsão era 2018, que eu não acredito que ocorra”, destaca o presidente da Associação Nordestina de Logística do Nordeste (Anelog), Fernando Trigueiro. “Até o percentual de conclusão é questionável. Se tivesse 55% concluídos teria algum trecho pronto, seja de Salgueiro a algum porto (Pecém ou Suape) ou na integração do Piauí. E nada disso é apresentado”, acrescenta.
A construção em Pernambuco tinha tudo para ser a primeira a engrenar. O estado foi o primeiro a concluir o processo de desapropriação das áreas que serão impactadas pela construção. O traçado passou por quatro mudanças no trecho pernambucano para livrar áreas de barragem (para evitar inundações) e centros urbanos (que encarecem as indenizações), além da igreja de Custódia, protegida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por ter restos quilombolas sob a construção do tempo. Depois de anos de entraves para definição da manutenção da igreja, foi planejada e entregue à Agência Nacional de Transportes Terrestres a mudança, com a construção passando 14 metros ao lado do templo. Uma nova igreja chegou a ser construída em 2011 para que os cultos fossem transferidos, mas não houve adesão da comunidade. Nesse embróglio, a obra estacionou.
De acordo com o professor do departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maurício Pina, o agravante do atraso é que chega a um ponto em que, quanto mais atrasa, mais cara a obra fica para os cofres públicos. “Tratar como política é problemático. No fim, ninguém ganha. Principalmente no estágio atual, como projeto pronto e obra na metade. Não dá para recuar e desistir. Dá para concluir, se colocar como prioridade”, assinala. Segundo o professor, além do caráter político, os problemas que uma obra encontra é pela falta de atenção que se dá ao projeto. “Não se prioriza a elaboração e a importância do projeto. Trabalha-se como prazos inexequíveis de elaboração do projeto para que a obra comece logo. Isso é um erro grave porque dá margens para custo imprecisos, por exemplo”, pontua.
RESPONSABILIDADE
A construção é responsabilidade da Transnordestina Logística S.A (TLSA), concessionária responsável por implantar os 1.753 quilômetros de malha ferroviária, mas que, atualmente, não trabalha em Pernambuco, apenas no Ceará e no Piauí. A TLSA foi procurada pelo Diario, mas não informou quando deve voltar a mobilizar equipamentos no estado, não apresentou calendário de entrega do projeto, nem informou orçamento à disposição para tirar o projeto do papel. O Ministério dos Transportes, apesar de ser o órgão do governo vinculado à obra, disse que qualquer assunto é tratado com o agente privado.
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