Um ano depois, a falta que faz Eduardo Campos
(fonte: Portal R7)
Eduardo Henrique Accioly Campos era o mais promissor, carismático e preparado líder da nova geração de políticos brasileiros, tão carente de lideranças. Eu tinha chegado a esta conclusão depois de duas longas conversas com ele para fazer reportagens e entrevistas publicadas na “Brasileiros”, nos anos de 2010 e 2012, que podem ser acessadas no arquivo digital da revista.
Esta semana, em que uma série de homenagens lembrará um ano da sua trágica morte em acidente aéreo, no início da campanha presidencial de 2014, poderemos refletir um pouco sobre a falta que ele nos faz. Candidato a presidente, depois de ter governado Pernambuco por dois mandatos, Eduardo morreu muito moço _ faria 50 anos nesta segunda-feira, 10 de agosto _ mas falava e agia como um craque experiente, tocando a bola de primeira no gramado da política, conhecedor do seu ofício, aprendido desde menino com seu avô, Miguel Arraes, que também morreu num dia 13 de agosto.
“A nova cara da política” foi o título da matéria publicada na edição de novembro de 2010. Conversamos dias antes das eleições gerais daquele ano, em que ele já despontava como o grande campeão nacional de votos (teve 82,84%) na sua reeleição para governador. Ficou combinado que só publicaria a entrevista se as urnas confirmassem as pesquisas. “Está na hora de fazer uma reforma para aproximar o povo da política”, disse-me ele ao final do nosso papo, que atravessou a tarde no Palácio do Campo das Princesas. Saí de lá convencido que ele não tinha planos apenas para Pernambuco, mas para o país. Estava nascendo ali uma futura candidatura a presidente da República.
Mais certeza disso tive dois anos depois, quando fui conversar com ele sobre os rumos da campanha municipal de 2012, que ficou marcada pelo rompimento de Eduardo com o PT, seu antigo aliado na Frente Popular do Recife, após uma série de desencontros com o velho amigo Lula. “Lula X Eduardo Campos” foi o título desta reportagem. O candidato a prefeito apoiado pelo governador ganharia com folga do candidato do ex-presidente, que nem iria para o segundo turno.
Tinha marcado uma conversa com Evaldo Costa, seu fiel assessor de imprensa, uma das heranças que recebeu de Arraes, mas assim que desembarquei no aeroporto dos Guararapes a secretária de Eduardo me ligou avisando que o governador estava me esperando para o almoço no Centro de Convenções de Olinda, onde ele estava despachando, enquanto o Palácio do Campo das Princesas passava por uma reforma.
Um trecho da matéria:
“De bom humor e animado como sempre, o governador pernambucano mostrou apetite para repetir o prato e não parou de falar de política durante o longo almoço com cardápio trivial. Só depois do cafezinho, conforme o combinado, peguei meu caderno de anotações e a caneta e fui direto ao assunto desta reportagem: como ele está analisando o cenário da disputa de 2012, principalmente nas capitais onde se enfrentam PT e PSB, tendo como pano de fundo a sucessão presidencial em 2014”.
Eduardo contou ao final como se deu o desenlace com Lula e o PT: “Fiquei sabendo pela imprensa que o Humberto Costa (atual senador) seria o candidato do PT com João Paulo de vice”. Inconformado, o então governador ligou para o ex-presidente: “Estou falando do gabinete onde o doutor Arraes recebeu os milicos, não sou homem de ser enquadrado por ninguém. Posso ser convencido, mas enquadrado, não”.
Assim era Eduardo Campos. Impossível saber como seria hoje o Brasil se o avião dele não tivesse caído, mas certamente não seria o mesmo, este deserto de projetos e de ideias. Tudo o que aconteceu depois, porém, reforçou minha certeza de que ele era o melhor, para o país, entre os quatro candidatos principais que disputaram a última eleição presidencial, como comentei com os amigos, após as nossas conversas no Recife, e pela experiência de ter trabalhado na mesma equipe (ele era ministro de Ciência e Tecnologia e eu Secretário de Imprensa) e morado no mesmo hotel, nos dois primeiros anos do governo de Lula.
“Se estivesse vivo, o desfecho e o quadro político e econômico não seriam diferentes. Mas ele seria uma voz equilibrada em meio ao caos, uma voz com reconhecimento nacional para ajudar a liderar a busca de um caminho”, disse o presidente da Fundação João Mangabeira, ex governador Renato Casagrande, ao jornal O Globo.
Marina Silva, que era sua vice e assumiu o lugar de Eduardo na candidatura presidencial do PSB, foi na mesma linha: “Creio que Eduardo estaria percorrendo o país para conversar com as lideranças regionais, insistindo em temas como o pacto federativo e a reforma tributária, estaria na luta. Sua presença certamente daria mais qualidade à política brasileira”.
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