Um estranho no ninho
CONJUNTURA POLÍTICA /// O vereador Lúcio Fabrício através do Requerimento no 151/2014, de 06 de novembro, questiona o Secretário de Cultura do Município, Daves Nascimento, buscando saber “as razões pelas quais não foi criado o Conselho Municipal de Cultura”. A decisão nesse sentido fora tomada desde o dia 05 de agosto de 2013, no âmbito da Conferência Municipal de Cultura de Surubim. A referida Conferência realizada com a participação de 84 representantes da sociedade civil e 20 da área governamental mostrava-se como um possível divisor de águas entre a mediocridade em que mergulhara e a Secretaria dinâmica que os produtores culturais do município tanto aspiram.
Dentre dezenas de propostas discutidas e aprovadas naquele encontro citaremos algumas além da criação do Conselho de Cultura:
1. Elaboração e implantação do Plano Municipal de Cultura;
2. Criação do Fundo Municipal de Cultura, para promover o fomento e o incentivo à cultura;
3. Criação do Cadastro de Informações Culturais;
4. Criação da Agenda Cultural;
5. Realização de Festivais de Cultura com música, literatura, teatro, dança, arte, fotografia, moda, artesanato, costura etc.;
6. Resgate do Festival de Teatro Estudantil de Surubim;
7. Criação do Programa com as Bibliotecas Públicas e Privadas para realização de palestras, seminários e oficinas;
8. Valorização dos ritmos pernambucanos no Carnaval;
9. Criação do Espaço Cultural de Referência para difusão e formação cultural;
10. Criação da Escola de Música;
11. Criação de Galeria para Exposição de Artes Plásticas;
12. Criação da Biblioteca Multimídias;
13. Implantação da Semana da Cultura da Paz;
14. Apoio ao Museu Capiba;
15. Criação do Memorial da Cidade;
16. Promoção do tombamento de prédios históricos;
17. Estabelecimento de parcerias com Instituições Educativas, Culturais, ONGs, Sistemas, Associação Capiba etc.;
No total são pelo menos 75 propostas. Entre elas, identificamos como ações da Secretaria, apenas a Semana da Cultura. A proposta, não citada, de requalificar o uso do Centro Cultural Dr. José Nivaldo, encontra-se, com méritos, sendo colocada em prática pela Secretaria da Juventude que vem preenchendo lacunas importantes, inclusive buscando realocar a Biblioteca Pública em lugar mais apropriado. Consultem no site www.surubim.pe.gov.br o Relatório da I Conferência Municipal de Cultura e, certamente, irão constatar que anda foi cumprido. Nesse documento delineou-se o “caminho das pedras” por onde deveria seguir a STCE, de forma democrática e que verdadeiramente atendia a todos.
O sucesso de uma administração, quer seja pública ou privada, depende objetivamente da formação de uma equipe competente. Para tanto, exige-se o homem certo para o lugar certo. Não reconhecemos no Secretário Daves o homem certo para gerir as atividades culturais do município. Não fossem as ações do SESC-LER, estaríamos mergulhados no mais completo marasmo, à mercê de ações isoladas que eventualmente acontecem por estes lados. O nosso Daves que é pessoa de fino trato e sensível é, sem dúvidas, o homem adequado para dirigir uma possível Secretaria de Eventos. Essa sim, a galinha dos ovos de ouro de qualquer prefeitura interiorana.
Enquanto para um Festival de Violeiros com os maiores nomes de repentistas de todo o Nordeste a prefeitura dispendeu cerca de 10 mil reais, ou para o Mov Paz, uns magros 2 mil, o deputado Ricardo Costa em emissora local afirmou que estava destinando verbas para o carnaval surubinense na ordem de 300 mil reais. Está correto, o assessor “informal” do Secretário, o contraditório homem de imprensa, quando disse que cultura não dá voto. O que dá voto é festa no sítio, com direito a galinha gorda, é a contratação de bandas de forró, com enormes palcos montados para festas de grande apelo popular.
Deixamos claro, no entanto, que essas bandas de forró “plastificado” ou essas de brega “rasteiro” nada têm a ver com cultura. Pelo contrário, deseducam musicalmente os ouvintes. Esses são entretenimentos de custo alto e que absorvem a parte mais substancial dos recursos que são direcionados à Secretaria de Cultura de Surubim e do resto das prefeituras de todo o Estado. Nas administrações corruptas é o canal mais eficiente por onde são desviadas as verbas públicas.
Embora tenhamos encontrado algumas ações direcionadas ao artesanato, como as feirinhas, e as manifestações folclóricas, elogiáveis, as cabeças pensantes da cultura surubinense, quer nos dirijamos ao teatro, ao cinema, à música, à dança, às artes plásticas, à literatura, todas encontram-se ressentidas pelo completo abandono a que essas atividades essencialmente culturais estão relegadas. Não encontramos a participação da Secretaria de Cultura e Turismo nos eventos eruditos, quer sejam exposições de artes plásticas, lançamentos de livros, apresentações teatrais, concertos, etc.
Não podemos exigir que, quem quer que seja, goste de artes em geral, mas um Secretário de Cultura não pode esnobar, em uma cidade culturalmente pobre como Surubim, um “Café Literário”, uma exposição como a “Simplesmente Capiba” ou um concerto do Sonora Brasil, com o Quinteto Brasília, expressões de alto nível cultural que acontecem esporadicamente em nossa cidade. O respeito aos acordos multilaterais deve ser religiosamente cumprido. Afinal para quem deve servir a Secretaria de Cultura? Para que serviram os debates e as conclusões chegadas na Conferência de Cultura realizada pela própria Secretaria em 05 de agosto de 2013?
Fundador e editor-chefe do Jornal Correio do Agreste, além de comentarista político, escritor, pecuarista e entusiasta cultural.